Por: Michaell Lange
Londres, 07/01/21 –
A democracia viveu ontem mais um dia de infâmia perpetrado por pessoas disfarçadas de defensores da justiça e da democracia. Não foi o primeiro nem será o último. Grupos radicais de extrema esquerda e extrema direita, odeiam a democracia. Para estas pessoas, a democracia só é válida quando ELES estão no poder. Felizmente desta vez, o ataque foi contra uma das democracias mais bem sucedidas do mundo. O resultado: quatro mortos, dezenas de feridos, outras dezenas de presos, um presidente falsário, um partido republicano humilhado e desmoralizado e dois países beneficiados, Russia e China. Foi um dia vergonhoso para a história do país da liberdade e um dia de alerta para o mundo. Se isso pode acontecer nos EUA, pode acontecer em qualquer país do mundo!
Enquanto assistia extasiado, ao vivo na TV, um golpe de estado em andamento liderado publicamente via twitter por Donald Trump contra seu próprio país, uma amiga americana de Minneapolis me mandou uma mensagem que dizia: “Não sinto orgulho de ser americana nesse momento”. Eu sabia exatamente o que ela estava sentindo, porque nós, Brasileiros, sentimos isso o tempo todo. Respondi: “Não há motivos para você não ter orgulho do seu país. Esse é um momento ruim para os EUA, mas é só um momento”. No fundo eu sabia que esse golpe de estado dificilmente teria êxito. Primeiro, porque não havia legitimidade. O motivo era uma grande farsa baseada em uma grande mentira inventada e repetida centenas de vezes pelo presidente da republica e compartilhada outras centenas de vezes por seguidores radicais que pouco se importam com a verdade e a democracia. Segundo, porque foi uma tentativa de golpe liderada por um idiota profissional, incompetente e sem nenhum apoio da mídia e das forças de segurança do país que já haviam sido alertados por uma carta assinada pelos últimos 10 secretários de estado Americanos sobre a possível ameaça de um golpe.
O dia 6 de Janeiro de 2021 começou para republicanos e democratas Americanos da mesma forma como a maioria dos dias anteriores, mas terminou como mais um dia de infâmia na história da republica Americana. A polarização entre democratas e republicanos causada por anos de retóricas, acusações, protestos e violência de ambas as partes, chegou ao ápice ontem quando a republica viveu um dos seus momentos mais dramáticos. Grupos radicais liderados por Trump, invadiram o congresso nacional, atacaram congressistas, impediram os trabalhos constitucionais do governo, quebraram portas, janelas e escritórios de parlamentares, além do ato infame de trocarem a bandeira dos EUA por uma de Donald Trump.
Depois da tentativa de golpe ter sido frustrada pelas forças de segurança de Washington, republicanos e democratas voltaram ao trabalho e finalizaram a agenda do dia com a certificação do resultado das eleições. Porém, no inicio do dia, o plano de pelo menos 140 congressistas republicanos era promover uma injunção para impedir a certificação da vitoria de Biden pelo congresso nacional. Mas, depois da tentativa de golpe, dos 140 senadores republicanos restavam apenas 7 ou 8 que ainda apoiavam a idéia inicial, o restante votou com os democratas no reconhecimento e na legitimidade do resultado das eleições. Diante da gravidade do momento, os senadores republicanos usaram o bom senso e votaram com os democratas. Qualquer postura diferente dos senadores republicanos depois do que havia acontecido teria certamente, colocado a integridade da republica em sérios riscos.
Mas isso não significa que os republicanos não tenham mais perguntas para responder. Afinal de contas, a grande maioria dos republicanos desde o início, deu total apoio ao presidente, inclusive nas suas denuncias absurdas e infundadas de fraude eleitoral, investigadas, julgadas e rejeitadas por nada menos que 60 tribunais de justiça do país. O que aconteceu ontem não foi surpresa para ninguém. Os republicanos não foram surpreendidos pelo presidente, eles sempre souberam quem era Donald Trump. Mesmo assim, um dia depois da tentativa frustrada de derrubar a república, 45% dos republicanos continuam apoiando o golpe. O que salvou a democracia Americana ontem parece ter sido a presença do espirito Constitucionalista dos fundadores daquela republica. Certamente não foi a integridade e a dignidade dos republicanos.
O último ato de insanidade do pior presidente da história dos EUA pode ter sido um tiro no pé. O ataque de Donald trump contra seu próprio país irá inevitavelmente afastar muitos dos seus apoiadores moderados e abrir os olhos de muitas pessoas sobre suas farsas ideológicas e totalitaristas. Depois da vitoria do primeiro senador negro nas eleições para o senado na Georgia, os Democratas tem agora além da presidência, o controle do congresso nacional Americano e a oportunidade de enterrar o trumpismo devolvendo aos Americanos o sucesso econômico e a justiça social prometida durante a campanha. Se Joe Biden resolver rapidamente a crise da pandemia e retomar o crescimento econômico, o trumpismo deve perder força e se tornar apenas um movimento irrelevante e vergonhoso na história Americana. Donald Trump certamente será condenado pela história como o homem que pensou ser maior que a America e descobriu não ser menor que sua própria arrogância. Mas é preciso ter cuidado. A Democracia é um sistema frágil. Assim como o nazismo e o fascismo, é quase certo que o trumpismo não irá morrer junto com seu líder. Todo cuidado é pouco!