By: Michaell Lange.
London, 03/09/15 –
A foto do menino encontrado morto numa praia da Turquia chocou o mundo. O menino Sírio, chamado Aylan Kurdi, vivia com a família na cidade de Kobane, dominada por Jihadistas do Estado Islâmico. O irmão dele de 5 anos e a mãe também morreram, o pai foi o único sobrevivente e esta internado. Segundo informações divulgadas pela mídia hoje, a família resolveu fazer a travessia para a Grécia via Turquia, depois que seu pedido de asilo havia sido negado pelo Governo Canadense em Junho, onde parte da família vive hoje. A foto que mudou a opinião publica mundial reacendeu a urgência de uma solução para uma crise que ja passou de qualquer limite do absurdo. A morte do menino não é nem de longe um caso isolado. De fato, esse tipo de ocorrência se tornou um fato diário ao longo do Mediterrâneo. Segundo a ONU, somente nos primeiros 6 meses deste ano, 2432 pessoas morreram tentando cruzar o Mediterrâneo. Apenas na Síria, estima-se que o numero de pessoas deslocadas por conta da guerra civil, chegue a 8 milhões. Ao menos a metade ja deixaram o país. Praticamente toda a extensão da fronteira Leste da União Europeia esta vivendo uma situação caótica por conta do fluxo de refugiados tentando chegar a Europa. Na semana passada um caminhão frigorifico foi encontrado abandonado numa estrada na Austria. Dentro, os policiais encontraram mais de 70 corpos de refugiados, incluindo crianças. Ainda na semana passada, mergulhadores que investigavam uma embarcação que havia naufragado no mediterrâneo com mais de 400 pessoas abordo, encontraram centenas de corpos de refugiados, incluindo muitas crianças, dentro dos porões da embarcação. As pessoas que estavam dentro do porão não puderam sair porque o acesso estava fechado com cadeados. Nenhuma destas noticias chocou o mundo como a foto divulgada ontem. Realmente uma foto fala mais que mil palavras. A situação é tão grave que segundo especialistas e historiadores, a gravidade da situação dos refugiados de 2015 lembram a situação dos refugiados da segunda guerra mundial, onde famílias, principalmente de Judeus, fugiam da perseguição implacável dos Nazistas. Anne Frank, a menina de 15 anos que escreveu um diário durante a fuga da sua família para Amsterdam ficou conhecida como um dos maiores símbolos do holocausto. A Europa vive uma grave crise humanitária cada dia mais similar com a crise dos anos 40.
O que mais impressiona na foto do menino Aylan, é que ele estava vestido como se estivesse indo passear com seus pais. Talvez, este tenha sido mesmo o argumentos dos pais para explicar a viagem de barco. “Vamos fazer uma aventura de barco”. Quando saio com meu filho, que também tem 3 anos de idade, esse tipo de argumento é comum para deixa-lo empolgado com a idéia. Imagino que o menino deve ter escolhido a roupinha que ele gostava, e o tênis novo, porque é assim que acontece com meu filho. Ontem, confesso que ao ver a foto pela primeira vez, mesmo sabendo de todas as mortes anteriores e ter compartilhado os horrores que estas pessoas tem enfrentado, fui até o quarto onde meu filho dormia, sentei ao seu lado e chorei. Chorei porque vi meu filho nos braços daquele homem do resgate na Turquia, e acredito que muita gente teve a mesma impressão que eu tive. Olhando para o meu filho ali dormindo numa paz total, em total silêncio numa cama confortável, fiquei imaginando os horrores que milhares de crianças pudessem estar passando naquele momento em que meu filho dormia confortavelmente. Garoto de sorte pensei comigo. Sabe muito pouco da vida esse inocente. Chora e reclama porque tem cebola na comida dele. Infelizmente, ele tera vantagens e chances muito maiores na vida pelo simples fato de ter nascido no Reino Unido e ser branco. Digo infelizmente porque essa desigualdade de tratamento são causadores de guerras e divisões sociais. Digo infelizmente porque para o governo Britânico, meu filho vale mais que uma criança Síria, e essa é uma realidade infeliz e injusta.
O impacto da fotografia demonstrou ao mundo mais uma vez, que qualquer matéria bem escrita e com riquezas de detalhes sobre a crueldade e o horror enfrentado pelos refugiados em qualquer lugar do mundo, nunca substituirá a capacidade impactante de uma foto. Quando se da um rosto e uma história ao holocausto que ocorre hoje com os refugiados na Europa, o choque é muito maior. Em 1972, durante a guerra do Vietnam, os EUA lançaram mais bombas do que em toda a sua campanha na segunda guerra mundial, 4.5 milhões de pessoas morreram, mas foi a foto da menina Kim Phuc de 9 anos de idade com o corpo severamente queimado pelas bombas incendiarias lançadas pelo exercito Americano, que comoveu o mundo e mudou a opinião publica Americana que passou a protestar pelo fim da guerra. Na tragédia dos refugiados na Europa que estamos vivendo neste momento, a foto do menino Aylan Kurdi esta fadada a se tornar o símbolo desta tragédia. A foto de Aylan representa outros milhares de Aylans que perderam a vida de forma trágica, entre outros milhares que nesse momento seguem suas fugas para um destino incerto.
As autoridades Européias estão divididas sobre qual a melhor solução para a crise. Muitos países da Europa se recusam a receber refugiados. No Reino Unido, o primeiro ministro, mesmo depois da divulgação da foto de Aylan, afirma que não recebera mais refugiados. A Alemanha deve receber 800 mil apenas este ano. Ao menos 200 mil estão na Grécia. Na Italia o numero se aproxima dos 100 mil. Mais de 1.5 milhões estão em campos para refugiados na Turquia e ao menos 1.4 milhões estão no Líbano. O canada, que negou o pedido de asilo para a familia de Aylan, recebeu pouco mais de 2 mil refugiados nos últimos 2 anos, numero parecido com o do Reino Unido. Mas, a Síria, com uma população de mais de 20 milhões de pessoa que tentam desesperadamente fugir da guerra civil, demonstra que a situação dos refugiados tende a piorar ainda mais nos próximos meses, sobretudo com a chegada do inverno que traz o frio intenso e tempestades que certamente causarão ainda mais naufrágios e mortes no mediterrâneo.
Ontem, nasceu um símbolo da tragédia humanitária na Europa, um símbolo que marcara mais um episódio vergonhoso na história da Europa. Assim como no Vietnam, os números dessa guerra ainda irão aumentar muito. Sem nenhum sinal de trégua na Síria e o descaso das autoridades na Europa, os refugiados continuarão a se multiplicar e a Europa sera forçada a resolver o problema. A solução dependerá de quem tiver mais influencia na União Europeia. Se a solução vier do Reino Unido, ao que parece, a solução sera a construção de um grande muro que ira separar os humanos que valem muito e os que não valem nada. Pelo jeito, a Europa desenvolvida e rica ainda tem dificuldades para lidar com o fantasma do nacionalismo.