O Indivíduo E O Poder Das Redes Sociais (reflexão)

By: Michaell Lange.

London, 20/11/15 –

O Brasil vive mais um período difícil na sua história, mas dessa vez é diferente. O Brasileiro nunca participou tanto da política nacional. Mesmo durante a ditadura militar, as ações estudantis se limitavam em sua grande maioria, às grandes cidades e aos grandes centros. Agora é diferente. O Brasileiro esta participando da política interna do país de qualquer lugar do território nacional e até do exterior, seja de dentro de um barco de pesca em alto mar, de dentro do ônibus a caminho do trabalho ou da escola, em casa, no carro, na academia, no gramado do Congresso, dentro do congresso e qualquer outro local com rede disponível. Definitivamente, o Brasileiro esta se politizando mais. Mas, ainda não aprendemos a lidar com o poder disponível em nossas mãos com o clicar de um botão. Ainda temos muito o que aprender sobre a importância de se comunicar e se comunicar de forma correta. Ainda somos influenciados pela grande mídia. Ainda defendemos partidos e políticos corruptos. Ainda não aprendemos a debater com mente aberta, com respeito e tolerância frente a opiniões alheias e contrarias. Mas tudo isso esta mudando. Estamos aprendendo, mas, ainda num ritmo muito lento. É preciso entender melhor o poder de comunicação que as redes sociais estão nos proporcionando, e usar esse poder em benefício de todos. Pense por exemplo, na quantidade de coisas que não saberíamos caso não existisse o facebook, o youtube, o twitter e outras redes disponíveis na internet. Quantos videos de protestos, de conflitos, de resgates, e outros eventos, são compartilhados nas redes? quantas opiniões são publicadas? Quantos assuntos são debatidos online? Fotos, momentos com amigos e família que podem ser divididos entre todos?

Sem duvida alguma, as redes sociais passaram a ser um grande aliado dos Brasileiros e um pesadelo para políticos, corporações e a grande mídia. O telefone passou a ser nossa grande arma contra abusos do estado. Com o telefone na mão, passamos a ser uma agencia de noticias 24 horas no ar. A possibilidade de filmar abusos do estado e outras negligencias sociais, nos deram o poder que antes não tinhamos, o poder de divulgar nossos pensamentos, nossas angustias, nossas idéias, nossos sucessos, nossas campanhas e denuncias. Dependíamos sempre, da boa vontade dos outros meios de comunicação para denunciar e promover movimentos sociais. Antes disso, nem com o total apoio da mídia seria possível publicar tanto quanto publicamos com nosso telefone nas mãos. Nunca fomos tão independentes, nunca publicamos tanto. Nunca na história do Brasil, o povo se comunicou tanto entre si, de forma direta e independente. Grandes talentos passaram a ser conhecidos e reconhecidos em todo o país. De moradores de rua a grandes filósofos, o Brasileiro passou a se conhecer melhor, e a se entender melhor. Isso tudo porque não precisamos mais do intermédio dos canais de TV. As redes sociais também mudaram o comportamento da grande mídia que passou a ser alvo de criticas nas redes sociais. Antes, um reporter fazendo a cobertura de um evento costumava ter a sua volta apenas uma camera. Hoje, o reporter tem uma camera e mais 10 telefones filmando o que a reportagem esta fazendo antes, durante e depois das gravações. Qualquer vacilo vira noticia e alvo de criticas nas redes sociais. A brutalidade da policia de São paulo contra alunos das escolas publicas, ou o resgate de uma família inteira de banhistas em uma praia Brasileira, pode ser assistido em Londres ou em Nova York, apenas minutos depois da ocorrência, sem edição, sem cortes, sem influencia de interesses de terceiros. Vai tudo para as redes sociais da forma original. É difícil imaginar quantos crimes foram denunciados, desvendados e desmentidos por conta de denuncias nas redes sociais. Estamos pressionando nossas autoridades a se comportar melhor, a fazer seu trabalho de forma correta. Antes das redes sociais, um abuso policial nem era divulgado. Hoje, é compartilhado por milhões. Mas ainda falta muito para ficar bom.

O Brasileiro precisa perguntar mais. Questionar mais. Cobrar mais transparência dos veículos de comunicação, seja governamental ou privado. O Brasileiro precisa entender melhor os eventos que acontecem no Brasil e a forma como são divulgados por diferentes meios de comunicação. A revista Veja e a revista Carta capital por exemplo, defendem interesses diferentes, quase opostos. Sera que devemos confiar em tudo que eles publicam? É normal sentirmos mais, ou menos simpatia por um ou outro meio de comunicação. Esse sentimento de confiança é muitas vezes movido pelos nossos interesses pessoais, mas devemos ter em mente que nada disso significa que um ou outro meio de comunicação estão certos ou errados. Por isso a importância do auto-questionamento. Uma pessoa que defenda um governo de esquerda, pode sentir mais confiança numa revista como a Carta Capital e ver a revista Veja com muita desconfiança. Ja o contrário pode acontecer com alguém que defenda os ideais de um governo de direita. Nesse caso, a revista Veja pode parecer mais confiável do que a revista Carta Capital. Esse fenômeno tem a ver com o sentimento de representatividade que cada indivíduo tem. O mais importante nesse caso é nos questionar sobre os motivos de sentirmos mais representados por um ou por outro ideal. De um ponto de vista pessoal, o fato da revista Veja e a revista Carta Capital defenderem publicamente diferentes interesses é em si, motivo suficiente para não confiarmos em ambas. A compreensão sobre nossos próprios sentimentos e como chegamos as conclusões que chegamos, é fundamental na hora de usar nosso poder de comunicação nas redes sociais. Se eu me declaro um Petista, como posso esperar que alguém que se declara PSDBista confie ou acredite no que eu escrevo? A imparcialidade, sobretudo política, nos da portanto, o poder de escolher em apoiar idéias indiferente de onde venham. Dessa forma, posso apoiar o Bolsa Família promovida pelo PT sem necessariamente apoiar outras políticas desse partido. Posso apoiar a quebra da patente dos medicamentos para o tratamento da AIDS promovida pelo governo do PSDB sem necessariamente apoiar outras políticas desse partido. O problema é que, ao me declarar apoiador do partido A ou B, ou defender a revista A ou a revista B, torna-se praticamente um pecado mortal concordar com qualquer coisa que o partido ou a revista adversária apoie. Os Petistas são por tanto, proibidos de apoiarem qualquer idéia promovida pelo PSDB e vice-versa. Dessa forma, perdemos nossa independência de apoiar aquilo que achamos ser correto para o bem comum. Esse comportamento é inevitavelmente transferido para os nossos debates nas redes sociais. Para quem esta no poder, essa divisão é importante e  necessária para que eles permaneçam no poder. Para os principais meios de comunicação, assim como para os partidos políticos, a divisão do publico em diferentes grupos é a garantia de que ganhando ou perdendo, eles continuarão exercendo grande influencia nos meios de comunicação e na forma como o Brasil é governado ou seja, como nós somos governados. A perda da parcialidade dos indivíduos, seja pelos meios de comunicação através da sua audiência, ou para um partido político na forma do numero de membros, ou para uma igreja, na forma do numero de fiéis, significa a perda do poder, a perda do poder sobre nossas vidas. A pergunta aqui seria: Por que entregamos nosso apoio (nossa independência de opinião) a uma entidade, tão facilmente, principalmente quando estas entidades não nos representam da forma como deveriam nos representar?

Entender nossos sentimentos e como escolhemos nossos representantes, é fundamental para o futuro da nossa liberdade de expressão e para o futuro da sociedade Brasileira. Devemos estar sempre alerta para reações impulsivas e desnecessárias. Devemos entender que numa democracia, é vital respeitar as opiniões diferentes, por mais absurdas que elas possam parecer. A consciência de saber porque pensamos como pensamos e como essa forma de pensar é transferida para as redes sociais, é extremamente importante para o futuro da nossa sociedade. No quesito participação e comunicação, o Brasileiro esta de parabéns. A maneira como estamos usando esse poder para o beneficio de toda a sociedade Brasileira, continua sendo uma incógnita a ser definida. Por enquanto é certo afirmar que, enquanto o Brasileiro não fazer as reformas necessárias na sua forma de pensar e agir, as reformas políticas e sociais tão importantes para o nosso desenvolvimento, continuarão sendo um sonho perdido em algum lugar do futuro.