O TEATRO DA VERGONHA

By: Michaell Lange,

London, 19//04/16 –

O Congresso Nacional trabalhou de forma exemplar nas ultimas semanas. Lotaram o plenário em pleno Domingo, um fato tão raro quanto o eclipse total do Sol. Estavam todos lá neste ultimo Domingo (17), com suas fantasias e suas línguas afiadas para votar massivamente pelo impeachment da Presidente Dilma Rousseff. A Casa estava cheia. Se pudessem, teriam levado suas famílias e seus amigos, como se estivessem prestes a assistir a apresentação teatral do século. Com exceção da verdade e da Constituição Federal, ninguém faltou ao espetáculo. Enquanto as Forças Armadas desfilavam arrogantes em seus tanques de guerra nas ruas do país em afronta ao povo Brasileiro, nossos congressistas em ecstasy, descarregavam todo o seu ódio na tribuna do congresso. Foi de fato o espetáculo do século, mas não foi bonito, nem exemplar. Foi na verdade, feio, sujo, odioso, infeliz, vergonhoso, ilegal, irresponsável, inapropriado, e de uma tristeza tão profunda que virou comédia. Conseguiram elevar o absurdo a tal patamar que ficou engraçado. E como não rir de situações como a da Deputada que homenageou o marido que segundo ela, é um exemplo para o Brasil e em menos de 24h o mesmo exemplo ter sido preso por corrupção? Assim como qualquer espetáculo de comédia, rimos do inacreditável!

Em qualquer democracia o povo é soberano, e é a única instituição com poderes para eleger prefeitos, governadores, deputados, senadores e o presidente da república. Estes, não são os donos do país. São apenas representantes que devem respeitar acima de tudo, a Constituição Federal. No Brasil esse conceito de democracia parece existir apenas no dia das eleições. Uma vez eleitos, os políticos passam a ser uma espécie de Deuses com poderes absolutos e sobrenaturais, e com autoridade ilimitada. São de fato, acreditam eles, enviados de Deus! E por falar em Deus, este, foi difamado o dia inteiro por falsos profetas. Falsos líderes e falsos religiosos. Usam de qualquer artifício para garantir o voto, e do dia para noite, se tornam os proprietários de todos os bens do estado, e fazem deles o que bem entenderem, sem medo de serem questionados porque afinal de contas, são enviados de Deus. Quando sós, a ameaça ao estado é fracionada, mas quando unidos, tornam-se a maior ameaça a segurança nacional. O Domingo (17) foi a maior prova disso. O exército foi para as ruas esperando uma possível invasão talvez, liderada por Che Guevara e Fidel Castro, ou mesmo de uma aparição surpresa do próprio Bolívar. Sim porque a mentalidade militar parou de evoluir em 1960. Os Argumentos são os mesmos e a retórica do ódio também. E quando eles se unem aos falsos religiosos, o mundo inteiro corre perigo. Essa combinação é mais perigosa que pólvora na mão de crianças.

Nada é impossível para um político eleito. Derrubam processos legais, interferem no curso da justiça, abusam dos poderes e exercem poderes que não lhes cabem. A Constituição Federal é uma mera coadjuvante que só é lembrada, com muita cautela, quando é de extrema necessidade e mesmo assim, no Domingo não se ouviu falar dela. Claramente a sua presença naquele palco espúrio não seria conveniente. Exercem um poder paralelo que segue suas próprias Leis imaginárias, pelos códigos e doutrinas ditadas pela Bíblia, pelo militarismo e pelo partidarismo. A Constituição Federal aparece lá pela quarta ou quinta posição no ranking de importância ficando atras até mesmo dos interesses pessoais de cada servidor público. Não houve uma citação da Constituição Federal, e o motivo pelo qual o processo de impeachment foi implantado, só foi citado depois do voto de número 400.

Depois do vergonhoso espetáculo do último domingo, uma coisa ficou clara. O governo do Brasil é uma farsa! Uma farsa que foi exposta e solidificada ao vivo e em rede nacional. O povo, hoje um pouco mais instruído, pediu o fim da corrupção e recebeu em troca uma ditadura partidarista do PMDB, que agora comanda todos os poderes do estado. Michel temer do PMDB será o novo presidente da República. A Câmara dos Deputados é presidida por ninguém menos que Eduardo Cunha, do PMDB, e a Câmara do Senado é presidida por ninguém menos que Renan Calheiros, também do PMDB. Se chamarmos isso de democracia, ficaria difícil definir o que seria uma ditadura. Democracia ditada não existe. Ela foi criada para camuflar o assalto, a manipulação do crime e a perpetuação do poder pelos poderosos, para os poderosos. O povo é meramente uma informalidade inconveniente que vez por outra, pode ser usada como ferramenta de ataque ou de defesa àqueles que, por meios lícitos ou não, tem o controle dos meios de comunicação e da justiça. A máfia da merenda de São Paulo por exemplo, ainda não foi ouvida por causa da falta de quorum. Pode? Essa justiça, sem dúvidas, tem dono!

Mas, Domingo foi dia de celebração. Não se sabe bem o que estavam a celebrar, ou porque estavam a celebrar. A música Perfeição, da Legião Urbana talvez tenha muito a nos dizer sobre nossas celebrações nestes últimos tempos. A musica de Renato Russo, talvez nunca tenha sido tão apropriada e atual. Afinal, o que poderíamos celebrar depois de assistir ao vivo na TV, a derrubada de uma presidente democraticamente eleita pelos Brasileiros, sem que ela tenha sido julgada ou condenada por crime algum? Como é possível existir um sistema democrático quando a presidente da república é deposta justamente por aqueles que perderam as eleições? Qual democracia permite que tanques de guerra patrulhem as ruas de um país livre e soberano em uma clara afronta a todo e qualquer elemento que pudesse colocar em risco o sucesso da operação? Qual democracia permitiria que um réu corrupto como Eduardo Cunha, ou um ja condenado como Maluff e outros tantos acusados de corrupção, possam derrubar uma presidente que não foi condenada a nada? Nossa democracia é obviamente uma farsa! Nosso governo é obviamente uma farsa.

O Domingo (17) provou que o  Brasil, ou os dois Brasis, não são governados mas sim, comandado por um bando de criminosos. O povo, dividido, apoia o lado A ou B sem perceber que  A e B fazem parte do mesmo lado. O mesmo lado que rouba, que engana, que corrompe, que mata o povo nos hospitais e nas periferias, e que estupra a nossa nação em nome dessa pseudo democracia. É muito estranho e bizarro olhar aqui de fora e ver Brasileiros tratando outros Brasileiros como se fossem estrangeiros, invasores do seu próprio país. Essa divisão é a receita perfeita para a perpetuação da dominação.

A divisão do povo Brasileiro é uma evidência patológica da doença social que o Brasil vive atualmente. Estamos sofrendo de uma doença grave em estado avançado que ja nos tirou a visão, a sensibilidade e a noção do que é certo e errado. Nossa memória nos foi arrancada por hipnose e somos incapazes de reconhecer nosso maior inimigo. Não foi o PT que sofreu um golpe, nem a Democracia. Quem sofreu um golpe neste Domingo passado foi o povo Brasileiro. Foram as centenas de milhares de pessoas que saíram as ruas de vermelho gritando não ao golpe. Foram os milhões de Brasileiros que foram as ruas de verde e amarelo defendendo a democracia. Os congressistas por outro lado e meio sem intensão, mostraram suas verdadeiras faces. Cuspiram-se, ofenderam-se, usaram de palavriado baixo, feio e inapropriado para a posição que ocupam. Nos envergonharam de todas as formas com a falta de controle emocional, pela falta de educação e dignidade. De fato, representaram o que há de pior na sociedade Brasileira. Se comportaram como o verdadeiro lixo social que precisa ser combatido. Não há absolutamente nada que justifique o comportamento das Forças Armadas e dos congressistas Brasileiros no último Domingo. Feriram a moral, a Constituição Federal, e destruiram qualquer resquício de credibilidade que ainda restava ao país. O mundo assistiu ao circo Brasileiro como um programa de comédia aos Domingos. Fomos os palhaços do ano! Graças a estes senhores que provaram não ter capacidade de representar o povo Brasileiro, fizemos mais uma vez, o papel de palhaço. Deveriam renunciar coletivamente e não mais concorrerem a cargos públicos. Só assim teríamos alguma chance de restaurar a dignidade política do nosso país. Mas acho que seria mais fácil fazer o peru votar a favor do Natal.