TRUMP: “ATAQUE AO IRÃ SERIA DESPROPORCIONAL”

Por: Michaell Lange,

Londres, 22/06/19 –

É inegável a habilidade de negociação e inteligência política do presidente Americano. Há pouco mais de um ano das eleições presidenciais, Donald Trump, pode ter dado mais uma de suas cartadas diplomáticas na direção da sua reeleição.

Na última Quinta Feira (20), o governo Iraniano anunciou que teria derrubado um Drone do exército Americano dentro do seu espaço aéreo. A notícia teria enfurecido Trump, que afirmou a jornalistas; “O Irã cometeu um grande erro”. Um dia depois do incidente, Trump teria ordenado uma missão de retaliação ao Irã, com ataques aéreos à pontos estratégicos no país. Horas mais tarde, com os caças Americanos já a caminho e a menos de 10 minutos do início dos ataques, Trump decide cancelar a missão de forma abrupta. A pergunta imediata é: o que fez o presidente mudar de idéia quando a missão ja estava em andamento?

Numa entrevista a rede de TV NBC , Trump disse que teria perguntado ao General encarregado da missão quantos civis morreriam como resultado desses ataques antes de dar o “go ahead” (última ordem antes do ataque). O General teria respondido; “por volta de 150, Sr. presidente”. Trump disse ao reporter da NBC, que não estava confortável com esse número de fatalidades por achar desproporcional, afinal de contas, o Irã teria derrubado um equipamento não tripulado, e por isso, teria cancelado a missão no último instante.

No primeiro momento, a declaração do presidente de ter cancelado a missão para poupar vidas inocentes, demonstra um raro sentimento de compaixão do presidente. De fato, um comportamento Cristão, cairia muito bem com a opinião pública Americana, não fosse por alguns detalhes.

Para os olhos desacostumados com os princípios das relações internacionais, ditados pelas teorias do realismo, sobretudo nas questões de segurança internacional e missões militares, a história contada pelo presidente Trump encheria qualquer apoiador de orgulho. Mas, algumas questões levantam dúvidas sobre a veracidade e as reais intenções da história contada pelo presidente para justificar sua decisão de cancelar a missão no último segundo. Os EUA possui o exército mais poderoso e moderno do mundo. Os gastos do governo Americano com as forças armadas, é maior do que a soma dos gastos de todos os outros exércitos do mundo. Como chefe supremo das forças armadas, é praticamente impossível que Donald Trump não soubesse dos mínimos detalhes dessa missão, com várias horas de antecedência, incluindo o número de fatalidades e suas consequências. Por tanto, não faria sentido o presidente perguntar sobre uma informação que ele já teria conhecimento nos instantes finais para o inicio dos ataques. Com certeza o Pentágono não cometeria esse erro. O planejamento de missões militares é sempre feito juntamente com o presidente, e o número de fatalidades, certamente teria sido avaliado com plena antecedência. É totalmente irreal que uma missão militar em território hostil, não levasse em consideração as possíveis fatalidades em ambos os lados, principalmente quando se trata do mais poderoso exército do mundo.

A segunda questão esta relacionada ao sentimento de “compaixão” e proporcionalidade do Presidente, a ponto de faze-lo cancelar um ataque quando os caças Americanos já estavam a caminho dos alvos, por causa de um possível número de fatalidades.

Se há uma característica na qual os apoiadores e opositores de Trump concordariam, é a total ausência de proporcionalidade nas falas e nas atitudes do presidente. Trump nunca usou de proporcionalidade para chamar imigrantes Mexicanos de criminosos, assassinos e estupradores, ou se referir a mulheres, de gordas, cachorras e porcas. Outra característica ausente no repertório do presidente, é compaixão. Trump, nunca usou de compaixão na hora de humilhar, das formas mais terríveis, seus adversários. O presidente também não demonstrou nenhuma compaixão com as milhares de crianças que ele separou dos pais, antes de prende-las em celas, sem os devidos cuidados, por meses a fio. Teria então, o presidente inventado essa história apenas para demonstrar princípios e virtudes que até o momento ele não teria demonstrado, para impulsionar sua campanha para as próximas eleições? É difícil dizer ao certo. A decisão de cancelar uma missão que já estava em curso, quebra todas as regra nas relações internacionais e certamente não será bem visto por seus aliados. Mas, uma coisa é certa, não se pode subestimar a capacidade de influencia do presidente, e sua incrível habilidade de transformar atitudes negativas em ganhos políticos.

A escalada das tensões entre EUA e Irã, pode levar os dois países a um sério conflito numa região extremamente delicada e de valor imensurável para a economia mundial. Por ali, passam mais de um terço de todo o petróleo consumido nos EUA. Qualquer distúrbio no transporte marítimo nessa região tem consequências diretas no valor do petróleo. O governo Americano já proibiu suas empresas aéreas de usar o espaço aéreo Iraniano como medida cautelar. Outras empresas aderiram voluntariamente e buscam rotas alternativas. Resta esperarmos os próximos capítulos dessa crise e torcer para que as duas partes encontrem uma solução diplomática para o problema. Os motivos do presidente Americano cancelar o ataque ao Irã com a missão já em andamento, continua um mistério.