Por: Michaell Lange,
Londres, 19/06/19 –
A indústria das armas nos EUA, segundo a Forbes (2018), vale $28 bilhões de Dólares (R$ 108 bilhões de Reais), por ano. Do ponto de vista econômico, é sem dúvidas um valor expressivo. Mas, comparado com empresas como a Amazon por exemplo, que em 2017 faturou $178 bilhões de Dólares (Forbes), o valor do mercado das armas já não parece tão expressivo assim. Se comparado com o PIB Americano, que é de $19 trilhões de Dólares (Forbes), a contribuição parece ainda menor. Por outro lado, os EUA gasta um total de $25 bilhões de Dólares em segurança pública, incluindo $2.7 bilhões de Dólares gastos por escolas Americanas anualmente, para manter armas fora das escolas.
O direito de portar armas nos EUA, foi ratificado por uma emenda Constitucional em 1791. De lá para cá, muito pouco mudou na Lei, mas as armas, que em 1791 tinham a capacidade de até 3 tiros por minuto, hoje são capazes de atirar 200 vezes por minuto. A Lei Americana, permite que um cidadão possa comprar um rifle AR-15, a partir dos 18 anos de idade. Mas, o mesmo cidadão só pode comprar uma cerveja, depois de completar 21. As disparidades na legislação e a forte relutância do governo Americano em restringir o porte e a comercialização de armas, faz dos EUA o país mais violento entre todos os países desenvolvidos. Nos EUA, 64% dos homicídios envolvem armas de fogo. Este número não é surpresa. Os EUA é o país com maior número de armas de fogo por habitantes do mundo. São 120 armas de fogo para cada 100 habitantes. O Yemen, aparece em segundo lugar, com 50 armas de fogo por 100 habitantes (BBC).
O porte de armas de fogo nos EUA não torna o país mais seguro.
Em comparação, o número de homicídios entre algumas das maiores cidades dos EUA com relação a capital Britânica, Londres, evidencia essa realidade. Enquanto que em Londres há 1.6 homicídios para cada 100 mil habitantes, nas cidades Americanas como Nova York, o índice sobe para 3.4 homicídios para cada 100 mil habitantes. Em Los Angeles o índice é de 7 homicídios. Houston tem 11.7, Filadelfia 20.1, Dallas 12.5, e Chicago aparece com 24.1 homicídios para cada 100 mil habitantes. Índices absurdos para um país desenvolvido como os EUA. (CNN)
Segundo um estudo da Universidade de Washington, citado pelo site da PBS News, em 2016, mais de 250 mil pessoas foram mortas, vitimas de armas de fogo em todo o mundo. Metade de todas as mortes ocorreram em 6 países, que representam apenas 10% da população mundial. Brasil e EUA, aparecem no topo desta lista, seguidos por México, Venezuela, Colombia e Guatemala. Foram 43,200 mortes por armas de fogo no Brasil em 2016 e 37,200 nos EUA. Entre os 20 países com maior número de mortes por armas de fogo, os EUA é o único país desenvolvido a aparecer na lista. (PBSNEWS). Segundo o Jornal Britânico, The Guardian, em 2017, o número de mortes por armas de fogo nos EUA subiu para quase 40 mil. Este é o maior número dos últimos 20 anos, diz o jornal. A grande diferença nos números entre EUA e Brasil é que nos EUA, 60% destas mortes estão relacionadas a suicídios, incluindo tiroteios em massa seguidos de suicídios (The Guardian).
No Brasil, o presidente da república, Jair Bolsonaro, esta travando uma grande queda-de-braços com o Congresso Nacional pela liberação do porte de armas no país. Mas, seria essa a solução para diminuir os números da violência no Brasil?
Os países mais seguros do mundo tem políticas rígidas e forte controle sobre a comercialização e o posse de armas de fogo. No Reino Unido por exemplo, a comercialização é proibida, e apenas um pequeno número de pessoas consegue cumprir os critérios para obter o porte de armas. Segundo dados do governo Britânico, até 31 de Março de 2017, haviam 154.958 mil posses de armas de fogo aprovadas pelo governo, incluindo 358 revogações. (UKGOV).
Em 1996, um homem armado com uma pistola legalizada, invadiu uma escola na Escócia e matou 16 estudantes. Como resultado, o Governo Britânico proibiu a posse e a comercialização de armas de fogo. Um programa de anistia promovida pelo governo Britânico, recolheu mais de 153 mil armas de fogo registradas, e 700 toneladas de munições. Hoje, o Reino Unido tem um dos menores índices de mortes por armas de fogo do mundo. O governo da Nova Zelândia também proibiu a comercialização e a posse de armas de fogo semi-automáticas, rifles e armamentos militares, depois do recente tiroteio em duas mesquitas na cidade de Christchurch. Também em 1996, a morte de 35 pessoas por um atirador, usando arma legalizada, levou o governo Australiano a introduzir duras Leis de restrição do comércio e posse de armas de fogo, incluindo uma medida obrigatória de devolução de armas de fogo, resultando na devolução de mais de 600 mil armas de fogo às autoridades Australianas. (BBC).
É importante questionarmos as razões e os motivos pelos quais o governo Brasileiro tenta liberar o porte de armas de fogo no Brasil, mesmo com tantas evidências ao redor do mundo mostrando que é exatamente a diminuição do número de armas que resulta na diminuição dos crimes e mortes causadas por armas de fogo. Quais seriam os estudos e analises feitas pelo governo Brasileiro para leva-lo a acreditar que a liberação da posse de armas de fogo no Brasil, resultaria na diminuição dos crimes e nas mortes causadas por armas de fogo? Os EUA é a maior prova de que um grande número de armas de fogo, resulta em um grande número de mortes por armas de fogo. O Reino Unido, a Nova Zelândia, a Austrália e outros países desenvolvidos, são provas irrefutáveis de que o controle da comercialização e da posse de armas de fogo, resultam na diminuição dos crimes e das mortes causadas por armas de fogo.
Não cabe aqui qualquer comparação econômica e social entre os países citados neste artigo, pois, o que realmente fez a diferença no número de crimes e mortes causados por armas de fogo, foi o número de armas disponíveis para a população. Dessa forma, o governo Brasileiro deveria concentrar seus esforços na recuperação e no controle de armas ilegais em posse de grupos criminosos, e também no combate à venda e do contrabando de armas ilegais no mercado negro.
Armar a população para combater bandidos fortemente armados, e que não respeitam forças policiais especializadas como o BOPE, parece uma idéia no mínimo insensata. A responsabilidade de proteger a população inocente, não esta na população, mas nas agências de defesa do governo, como a polícia, a inteligência e as forças armadas. A solução é o governo focar os esforços e os investimentos em segurança para desarmar os bandidos, acabar com o contrabando e a comercialização de armas ilegais, ao invés de armar a população para combater os bandidos.