Por: Michaell Lange
Londres, 01/07/19 –
O Mercosul comemora a assinatura de um acordo comercial histórico com a União Européia (UE). Após 20 anos de duras negociações, o tão sonhado mercado Europeu parece estar a um passo dos produtores Sul-Americanos. O novo acordo foi confirmado na última Sexta Feira em Osaka no Japão, onde ocorre a reunião do G20. Segundo o presidente da comissão Européia, Jean-Claude Juncker, esse é o maior acordo já assinado pela União Européia, com um total de €4 Bilhões de Euros em reduções tarifárias e a união de dois mercados totalizando 780 milhões de consumidores.
O Brasil tem muito a comemorar. Com 14 milhões de desempregados e uma economia em declínio, o novo acordo deve injetar novos ânimos ao mercado. O ministério da Economia acredita que o novo acordo pode render até R$480 Bilhões de Reais a economia Brasileira nos próximos 15 anos, divulgou a BBC Brasil. O presidente, Jair Bolsonaro, disse no Twitter que o novo acordo será o maior de todos os tempos e com enormes benefícios ao Brasil.
Nada é imediato ou garantido.
O novo acordo ainda precisará passar por inúmeros testes, negociações e votações antes de entrar em vigor. O acordo precisa passar por pelo menos 40 assembléias nacionais e regionais. Segundo o jornal Americano, POLITICO, Mesmo que o presidente da comissão Européia tenha poderes para negociar acordos, é necessário que todos os países da UE e o Parlamento Europeu, aprovem o acordo, antes que este possa entrar em vigor.
Um Grande teste para o presidente Bolsonaro
Apesar das comemorações, ainda há muitos desafios políticos e comerciais antes que o Brasil comece a colher os frutos desse acordo. O presidente Bolsonaro e sua equipe de governo, terão que mostrar muita habilidade para garantir que o Brasil consiga firmar todos os benefícios previstos, além de resolver as duras questões políticas que envolvem o acordo. Segundo a matéria publicado pelo POLITICO, o presidente Americano, Donald Trump, vem pressionando o governo Brasileiro a reduzir seus programas Ambientais, incluindo os programas ambientais firmados no acordo de Paris. Trump deseja que o Brasil siga os EUA e abandone o acordo de Paris, mas o presidente Francês, Emmanuel Macron, afirmou ao Presidente Brasileiro durante o encontro do G20, que o acordo de Paris, é uma garantia não negociável para que o novo acordo comercial entre o Mercosul e a UE seja aprovado. Além disso, o Ministro da Agricultura da Irlanda, Michael Creed, já demonstrou preocupação, e disse que poderá votar contra o novo acordo caso os fazendeiros Irlandeses sejam prejudicados. Michael Creed disse que o novo acordo comercial pode significar um prejuízo de €750 Milhões de Euros ao mercado de carnes da Irlanda. Outros 11 países do bloco Europeu também demonstraram preocupação com o novo acordo. (IrishTimes)
Um grande desafio para ambas as partes
Nem todo mundo sairá ganhando. Do mesmo modo que a Indústria Brasileira deseja melhor acesso ao mercado Europeu, o mercado Europeu também deseja maior acesso ao mercado Brasileiro. O novo acordo comercial irá beneficiar especialmente o mercado de carnes do Mercosul. Estima-se que em 10 anos a região estará exportando até 99 mil toneladas de carne para o mercado Europeu. Além de carne, o Mercosul poderá exportar também, Suco de laranja, café, açúcar, fruta, frango e Etanol (BBC). Em contra partida, o Mercosul se compromete em abolir as tarifas de importação para produtos Europeus como, automóveis, químicos, maquinários, vinho, bebidas destiladas e confecção (POLITICO). Isso significa que os produtos Europeus chegarão ao mercado Brasileiro com preços competitivos, colocando pressão sobre os produtos nacionais. A intensão é fazer com que a concorrência beneficie o consumidor Brasileiro, apesar dos riscos que isso poderia trazer para alguns setores da economia.
Outro desafio para a indústria Brasileira, será a adequação dos produtos Brasileiros para cumprir as normas do mercado Europeu. Apesar do Brasil já exportar carne para a Europa, o crescimento desse mercado exigirá grandes mudanças na forma como o Brasil produz carne. O mercado Europeu proíbe a entrada de carnes com hormônios, por exemplo, que é usado na indústria alimentícia para fazer com que os animais cresçam e engordem mais rapidamente. A Europa também proíbe alimentos geneticamente modificados. Muitos agrotóxicos também são proibidos na Europa, e o Brasil terá que se adaptar a estas novas exigências. Tudo indica que o governo Brasileiro terá que voltar atrás em muitas das suas recentes decisões, como a liberação de um grande número de agrotóxicos por exemplo, o uso de hormônios e as questões ambientais.
O governo Brasileiro tem nas mãos um verdadeiro desafio para os próximos anos. Mas o desafio não depende apenas do Brasil e do Mercosul. Do outro lado do Atlantico, países como a Irlanda, a Polônia, França e Bélgica, já se organizam para defender seus mercados de carnes contra este novo acordo econômico em Bruxelas. Nos EUA, Trump planeja visitar o Brasil e talvez, tentar tirar o Brasil do acordo com os Europeus em troca de algo mais lucrativo. Os EUA já demonstraram um grande interesse em aproveitar o novo governo para facilitar e intensificar os acordos comerciais entre os dois países. É provável que Bolsonaro, tenha que escolher entre EUA e Europa. É certo que se uma proposta Americana vier, será uma escolha entre o certo e o duvidoso. Bolsonaro tem uma verdadeira montanha de desafios pela frente, e suas escolhas terão reflexos direitos no seu futuro político. Com 14 milhões de Brasileiros desempregados apostando suas fixas no novo presidente, é imprescindível que Bolsonaro não desperdice nenhuma oportunidade para colocar o Brasil de volta no mapa econômico mundial. O Brasil não suportaria outro 7 x 1.