A REDE GLOBO E O JORNALISMO LIXO

Opinião, por: Michaell Lange,

London, 07/05/20 –

Você pode assistir a Globo, a Record, o SBT ou o que você desejar. O importante é saber discernir o que é conteúdo de qualidade e o que é jornalismo populista.

Eu gosto da Rede Globo! Não aceito o rótulo de “globolixo” que tentam impor à emissora. A Globo bateu de frente com o autoritarismo do governo e por isso, é duramente atacada. Mas não é o jornalismo da Globo que eles atacam. O jornalismo é apenas o meio, a desculpa, o pretexto. O que eles atacam é a autonomia da emissora de publicar e exercer sua liberdade de imprensa sem ser submissa aos interesses do governo. Não era exatamente assim que uma democracia com imprensa livre deveria funcionar? Lixo, deveriam ser as agências de notícias que publicam apenas aquilo que interessa ao governo em troca dos seus gastos publicitários. Os governos Comunistas também seguem essa estratégia de “comprar” as emissoras para publicarem apenas coisas boas sobre eles. As emissoras que se atrevem a investigar, fiscalizar, questionar e denunciar o governo, são caçadas e destruídas a todo custo. Essa é a razão da atual guerra entre Bolsonaro e a Rede Globo. Em 2006 o militar e ditador Hugo Chaves, suspendeu a concessão da RCTV de Caracas, que era a emissora de maior audiência da Venezuela. Bolsonaro ameaça fazer o mesmo com a Rede Globo e pelos mesmos motivos. Vale Lembrar que Lula também tentou criar um conselho federal de jornalismo para limitar a liberdade de imprensa no Brasil. 

A Globo faz com Bolsonaro exatamente aquilo que fez com Lula e Dilma até os últimos dias de seus governos. Denuncia, investiga, fiscaliza, expõe, e “bate” muito. Francamente, não deveria ser diferente. A Globo também não é a única rede de notícias a falar mal do presidente da república. O The Guardian, The Economist, Wall Street Journal, Forbes, New York Times, Washington Post, El Pais, The Japan Times, The Time of India, The Chicago Tribune, The Independent, Al Jazeera, Daily Herald, Time, The Sidney Morning Herald, são apenas alguns jornais e revistas ao redor do mundo que criticam duramente o comportamento autoritário e anti-republicano do presidente Brasileiro.

O papel da mídia não é bajular, flertar ou ser gentil com o governo, mas questionar, desafiar, investigar, fiscalizar, informar, denunciar e reportar as atividades do governo.  Na Europa por exemplo, as pessoas dão mais valor aos veículos de comunicação que “batem” mais no governo. Faz sentido, o governo não gosta de quem denuncia seus crimes e suas negligências.

Eu cresci assistindo a Globo. Os outros canais eram de uma inferioridade moral, educativa e jornalística absurda. Enquanto o Silvio Santos jogava dinheiro aos pobres, a “banheira do Gugu” conseguia colocar pornografia no ar em pleno Domingo a tarde. Já a Globo emplacava minisséries como o Sorriso do Lagarto, Riacho Doce, O Alto da Compadecida, e tantas outras que marcaram a minha geração. A dramaturgia da Globo sempre foi de uma riqueza artística incomparável. Roque Santeiro, Selva de Pedra, Mandala, O Salvador da Pátria, Tieta, Rainha da Sucata, O Rei do Gado, Terra Nostra, eram tão boas que o país parava para assistir o último capítulo como se fosse uma final da Copa do Mundo.

Programas como o Esporte Espetacular, Fantástico, Globo Repórter, Globo Rural, Globo Ciência, Globo Educação, Globo Natureza, Jornal da Globo, JN, JH, Jô Soares, entre outros, não deixam dúvidas de que o sucesso da Rede Globo não depende do dinheiro público para sobreviver. É claro que a Globo, como qualquer empresa privada, deseja uma fatia dos investimentos publicitários e bilionários do governo federal, embora pareça ser a única a recusar o “projeto de submissão jornalístico” imposto por Bolsonaro.

A Globo tem seus problemas e qual emissora não tem? O próprio meio como a Rede Globo foi criada é questionável. É claro que a Rede Globo também explora o jornalismo sensacionalista, populista e barato. Aliás, ninguém faz jornalismo sensacionalista e barato, melhor que a Record de Edir Macedo, a SBT de Silvio Santos, a Band de Johnny Saad (inimigo de Fernando Haddad) e a Jovem Pan. Estas por sinal, recebem sua parcela de contribuição orçamentária do governo e elogios do presidente em rede nacional por suas participações “positivas e obedientes” para com o governo. Uma coisa é certa, entre a TV Record, a Band e o SBT, a Rede Globo é certamente a última a merecer o título de jornalismo lixo. A Rede Globo tem seus problemas e defeitos, mas isso não desqualifica sua história de sucesso que continua gerando grandes trabalhos e bom jornalismo. De fato, a Rede Globo pode ter ocasionalmente, matérias de baixo valor jornalístico, mas definitivamente o rótulo de globolixo não faz jus a sua história de sucesso. O Brasileiro precisa entender que a atual guerra entre a Rede Globo e o presidente da república não envolve a qualidade jornalística da emissora, mas sim os interesses autoritários e políticos do governo federal contra a recusa da emissora de abrir mão do seu editorial jornalístico em favor dos interesses do governo.

Agradecimentos: Renata Lange Rila Quintino