Estado de Emergencia na Síria: Russia, Turquia e OTAN a Um Passo de Uma Catástrofe Mundial (analise)

By: Michaell Lange.

London, 25/11/15 –

O incidente desta semana (24) na fronteira entre a Síria e a Turquia que acabou com um avião bombardeiro Russo abatido e dois soldados Russos mortos, levou o mundo a beira de uma nova guerra mundial. O governo Turco afirma que o avião de guerra Russo invadiu seu espaço aéreo e foi abatido depois de inúmeros avisos feito pela força aérea da Turquia. O governo Russo desmente e afirma que seus aviões estavam em operação dentro do território Sírio a um quilometro da fronteira da Turquia. Segundo informações divulgadas hoje pelo governo Turco, haviam dois bombardeiros Russos seguindo um rumo direto para o território Turco. Um dos aviões teria atendido aos avisos da força aérea da Turquia e dado meia volta, o segundo avião teria seguido em frente e foi consequentemente, abatido. Os dois pilotos Russos conseguiram ejetar, mas foram alvejados por rebeldes Turcos terminando com a morte de um dos pilotos. O segundo piloto foi resgatado por soldados Sírios e levado a uma base militar Russa. No mesmo incidente, dois helicópteros Russos que faziam as buscas pelos pilotos do avião derrubado, foram atacados pelos mesmos rebeldes apoiados pelos Turcos. Um soldado Russo morreu no ataque. Os EUA afirmaram que o avião Russo entrou no espaço aéreo Turco, mas foi abatido quando ja sobrevoava a Síria. O avião Russo teria permanecido no espaço aéreo Turco por 17 segundos. A area da fronteira onde os aviões Russos voavam possui um braço territorial que entra dentro do mapa do território Sírio (veja no mapa abaixo) onde não é difícil cometer o erro de atravessar a linha de fronteira entre os dois países. O governo Russo reagiu imediatamente após o incidente e em pronunciamento, o presidente Russo Vladimir Putin, terminou todas as colaborações militares com a Turquia além de cancelar uma visita programada para esta semana ao país. A Russia também cortou o fornecimento de gás para o país que representa 20% do consumo Turco. Putin prometeu mais retaliações nos próximos dias.

Para fazermos uma analise justa sobre o incidente e suas possíveis consequências, é importante considerarmos algumas regras fundamentais que regem as relações internacionais. A primeira regra importante e não declarada é que, nas relações internacionais, as pessoas, os povos, e o bem estar dos civis são totalmente irrelevantes. O que importa nas relações internacionais são os interesses de cada país, que nem sempre representam os interesses do povo. Essa é uma regra informal e que jamais sera declarada ou confirmada por qualquer país. Evidencias dessa realidade são o numero de civis vitimas de guerras ou de acordos econômicos. Se os civis fossem o centro das atenções nas relações internacionais jamais se permitiria que 100 milhões de pessoas morressem na segunda guerra mundial por exemplo. A segunda regra importante é o cumprimento das leis internacionais que mesmo sendo ignoradas, fazem parte do jogo de acusações e pode ser usado como evidencia em tribunais internacionais como a ICC – International Criminal Court – ou a ICJ – International Court of Justice.

A decisão do governo Turco de derrubar um avião de guerra Russo surpreendeu até mesmo seus maiores aliados da OTAN. As circunstancias nas quais o incidente ocorreu e os acontecimentos logo após a queda do avião, deixou perplexos especialistas em relações internacionais do mundo inteiro. Os motivos por trás desse incidente tem  sido alvo de especulações. A Turquia é membro da OTAN, e é difícil imaginar que esta decisão tenha sido tomada apenas pelo presidente e o Ministro da defesa Turco. As regras para esse tipo de ação também parecem ter sido ignoradas. Segundo as Leis internacionais, todo país tem direito a defender seu território, mas isso não justifica a ação em si, ja que a Turquia mantinha boas relações com a Russia até os incidentes desta semana. Além disso, não havia nenhuma evidencia de que a Russia estaria atacando o país mas sim, apenas invadido seu espaço aéreo. A invasão do espaço aéreo de um país é considerado um sério incidente diplomático. A Turquia ja havia avisado o governo Russo de outros incidentes parecidos na mesma região e estes problemas certamente seriam debatidos na visita do presidente Russo a Turquia que estava programada para acontecer apenas um dia após a queda do avião Russo. O encontro foi cancelado imediatamente após o ocorrido. O piloto Russo que sobreviveu ao ataque, disse a mídia que não recebeu nenhum aviso sobre o ataque. O governo turco disse ter avisado o piloto 10 vezes antes do ataque. Segundo as Leis internacionais, um país pode derrubar um avião invasor se o mesmo se sentir ameaçado mas, derrubar um avião deve ser sempre o ultimo recurso. Antes disso, uma serie de procedimento devem ser esgotados antes da decisão de abater um avião invasor. Se o contato pelo radio for ignorado, os aviões da força aérea Turca deveriam ter voado ao lado da cabine do piloto do avião Russo para tentarem contato visual. Se este contato também for ignorado, alguns disparos de aviso cruzando a frente do avião invasor é o alerta final indicando que todos os avisos foram esgotados. Somente então, uma ordem do comando geral da força aérea Turca, juntamente com o presidente do país, devem tomar a decisão e dar a ordem para a derrubar o avião invasor ou apenas escolta-lo. Segundo informações do governo Turco e das autoridades Americanas, apenas o contato via radio foi exercido. O fato de que o avião  Russo teria permanecido em território Turco por apenas 17 segundos, pode ser a explicação para o problema. Mas, sera que a Turquia deveria ter derrubado o avião Russo por permanecer apenas 17 segundos em seu território? As autoridades Americanas também falaram que no momento em que o avião Russo foi abatido, este, ja estava em território Sírio. Se isso for comprovado, a Turquia pode ser acusada de cometer um crime de guerra. De qualquer forma, é difícil encontrar justificativas para a ação Turca.

Outro ponto que vem sendo especulado por especialistas, é a questão de que a Russia estava atacando rebeldes próximo a fronteira da Turquia. Porém, estes rebeldes, também conhecidos como “Tuksmen”, formados por rebeldes Sírios com descendência Turca, estão sendo apoiados, orientados e armados pelo governo Turco e a OTAN para lutarem contra o governo de Assad. O Ocidente classifica estes rebeldes de moderados. Mas esta moderação foi questionada e posta a provas depois que os mesmos rebeldes atacaram os pilotos do avião russo quando ainda estavam no ar em seus para-quedas. Um dos pilotos foi fatalmente ferido. O ataque aos pilotos Russos ainda em seus para-quedas, fere a convenção de Genebra de 1949 que proíbe ataques a pilotos e tripulantes em paraquedas que tenham sido ejetados de seus aviões. Logo após este incidente, os rebeldes ainda atacaram dois helicópteros Russos que tentavam resgatar os pilotos do avião derrubado, destruindo uma das aeronaves e matando mais um soldado Russo. Toda a ação dos rebeldes foi filmada e publicada nas redes sociais. O presidente Turco havia pedido ao governo Russo para não atacar os rebeldes próximo a fronteira com a Turquia dias antes do incidente. Talvez, a queda do avião Russo tenha sido uma retalhação pelos ataques Russos aos rebeldes apoiados pela OTAN. Se esse for o caso, a Russia pode responder com a intensificação de suas ações militares na fronteira com a Turquia pondo ainda mais risco numa possível confrontação entre a Russia e a OTAN.

Apenas um dia depois do ataque Turco ao avião Russo, o presidente Vladimir Putin enviou um navio de guerra para o local, para proteger suas aeronaves contra qualquer futuro ataque. Equipamentos terrestres com armamento anti-aéreo como o S-400 Defense Missile System, também foram enviados para local. O ataque Turco pode ter aberto as portas para o governo Sírio passar a usar a mesma estratégia de intervenção contra aviões que invadirem seu espaço aéreo. A Russia é o único país autorizado a usar o espaço aéreo Sírio, apesar da França e dos EUA estarem usando o espaço aéreo Sírio constantemente sem permissão, para atacar posições do Estado Islâmico no país. O Parlamento Britânico pode votar ainda esta semana uma resolução que autorizaria o Primeiro Ministro David Cameron, a se juntar as forças da OTAN na região. Qual seria a reação do Ocidente caso a Síria ataque aviões que invadirem seu espaço aéreo usando a mesma premissa da Turquia? A Síria, assim como a Turquia, é membro da ONU e segue as mesmas Leis Internacionais que dão direito de proteção do seu espaço aéreo soberano. Antes do incidente com o avião Russo, a derrubada de um avião Frances ou Americano pelo governo Sírio seria visto pelo mundo como uma grave provocação e que certamente teria retaliações militares . Mas, o ataque Turco pode ter aberto as portas para justificar esse tipo de retaliação, elevando ainda mais, os riscos do confronto entre a Russia e a OTAN.

A invasão de territórios nacionais por aviões militares de outros países não é uma pratica rara. Aviões miitares Russos invadem o espaço aéreo Britânico em média 5 vezes ao ano. Em todos os casos a diplomacia é acionada para lidar com a situação. O embaixador Russo em Londres ja foi chamado várias vezes para dar esclarecimentos, mas em nenhuma ocasião houve risco de ataque, porque o governo Britânico não vê uma ameaça eminente de um ataque Russo em solo Britânico. Os motivos para a Turquia decidir derrubar um avião de guerra Russo sem antes seguir os meios diplomáticos, continua sendo um mistério. Aviões da OTAN também sobrevoam as fronteiras da Russia regularmente. Nos últimos 5 anos uma média de 3 mil vôos da OTAN foram interceptados por caças Russos. Arriscar uma escalada de um conflito com a Russia parece ter sido uma ação na qual a Turquia pode se arrepender num futuro próximo, mas certamente todos riscos foram meticulosamente calculados por se tratar de um membro da OTAN. As consequências de ações como esta, podem sair do controle e se transformar num conflito entre o Ocidente e o Oriente podendo arrastar outras grandes potências como a China. Em Moscou, milhares de nacionalistas Russos protestaram em frente a embaixada da Turquia. Todos os vidros do edifício foram quebrados por pedras lançadas pelos manifestantes. Alguns cartazes traziam frases como: “A Russia não esquece, a Russia não perdoa”.

A gravidade da situação chegou a tal ponto que especialistas afiram que o Estado Islâmico deixou de ser a prioridade ou o motivo central do conflito na Síria. A prioridade pode ter passado a ser uma questão de hegemonia e controle na região entre o Ocidente e a Russia. Isso seria uma escalada monumental e extremamente preocupante, considerando que a poucos dias a Russia estava disposta a unir forças com a OTAN para combater o Estado Islâmico. Uma possível entrada da China nesse conflito seria ainda mais desastroso para o mundo inteiro. Os jornais Britânicos refletiram a tensão do momento com chamadas de capa dizendo: “O Mundo segura a respiração” e, “O Mundo A Beira da calamidade”. Tudo irá depender das próximas ações do governo Russo que ja deu algumas pistas do que esta por vir, com o envio de equipamentos de guerra pesada para o local. Uma agressão Russa contra a Turquia irá obrigar uma resposta da OTAN, e se isso acontecer, ninguém mais terá o controle da situação e o planeta pode voltar a viver uma situação parecida com a crise dos mísseis Cubanos em 1962, onde o mundo esteve a um passo da total destruição nuclear.

De fato, o mundo evoluiu muito de la pra ca. As relações internacionais se aproximaram e a interdependência causada pela globalização diminuiu os possíveis ganhos de uma guerra entre grandes potências. Mas, os riscos ainda existem porque os armamentos nucleares continuam ativos ao redor do mundo. A possibilidade de um conflito armado evoluir para uma guerra nuclear é mínimo, mas o risco existe. A comunidade internacional não pode aceitar que países como a Turquia sejam capazes de provocar a escalada de um conflito local em um conflito mundial. Os Russo são famosos provocadores assim como os Americanos, mas ambos os países conhecem bem seus limites e raramente permitem que provocações saiam do controle diplomático. A Turquia, com uma ação desnecessária e potencialmente desastrosa, pode ter forçado o Urso Siberiano a retaliar com força militar exemplar para garantir o apoio dos nacionalistas em Moscou.  O ideal nesse momento é fazer os dois países se sentarem na mesa diplomática e procurar uma solução que restaure o orgulho ferido dos Russos sem a necessidade de ações militares. Mas o ego ferido dos Russos é uma situação difícil de lidar além de ser imprevisível. Os diplomatas terão uma semana importante pela frente. Para a Russia, a Turquia se transformou em uma grande pedra nos sapatos. O urso siberiano foi humilhado perante o mundo. Aconteça o que acontecer, os dois países não podem entrar em confronto aberto. Um conflito entre a Russia e a Turquia certamente iniciaria uma nova guerra mundial que inevitavelmente, traria consequências desastrosas para todo o mundo. O jeito é esperar pelo melhor.12274211_1078181602215894_2874177884885509496_n