A CARNE NÃO É FRACA, A CARNE É PODRE! (crítica)

By: Michaell Lange, (crítica)

London, 20/03/17 –

Cazuza e Renato Russo cantavam nos anos 80, “Que país é esse?” “Brasil, mostra a tua cara!”. O povo cantou e canta até hoje as musicas que denunciavam nossa falta de bom senso e nosso descaso com o Brasil. Mas, por alguma razão, não percebemos que estas musicas falavam sobre a gravidade da nossa negligência com nossa própria sociedade. Ignoramos nossa própria ignorância, mas acreditamos no futuro do Brasil. Queremos o fim da corrupção, mas não respeitamos a Constituição. De fato, nem conhecemos a Constituição. A mascara do Brasil vai caindo a cada escândalo, denunciando a corrupção e o descaso não apenas dos políticos, mas dos empresários, empresas e cidadãos. São todos culpados do Brasil ser o que o Brasil é hoje. Mas invés de vergonha, o sentimento é de desleixo. A indignação é tão pouca que é insuficiente até para um único final de semana de boicote a carne. Inventamos logo uma desculpa para justificar o churrasco e nos deixamos levar pela passividade típica do nosso povo. Aceitamos nossa condição de viver na lama e fazemos piadas do nosso lamaçal. “Da lama ao caos, do caos à lama, um homem roubado nunca se engana”, dizia chico Science. A letra é em bom Português, mas parece entrar codificado nos ouvidos tupiniquins. Ninguém recebe a mensagem eminente. É como o alarme de incêndio que perde a importância depois de ser acionado por acidente várias vezes e ninguém evacua o prédio quando ele pega fogo de verdade.

A Policia Federal agora é criticada por “colocar a economia Brasileira em risco”. Denunciam a PF por expôr um problema grave e com décadas de idade por supostos interesses Americanos. Ninguém seria tolo o suficiente de duvidar que o os Americanos estão infiltrados em todos os setores da economia e da sociedade Brasileira. Mas a culpa da carne Brasileira ser uma das piores do mundo não é dos Americanos e nem da Policia Federal. A responsabilidade do lixo consumido no Brasil é dos empresários Brasileiros e do consumidor que aceita estas condições. A Russia e os EUA não podem ser responsabillizados por se negarem a comer o lixo produzido pelo Brasil. Se o Brasileiro aceita essa condição, então, assuma também as suas consequências. Agora, empresários e corporações como a Sadia, Perdigão, Ceara, Friboi, entre outras, que são responsáveis por milhares de trabalhadores, precisam ser responsabilizados por colocar a economia Brasileira em risco e infringir as Lei Brasileiras. Em qualquer país sérios, eles perderiam a licença para produzir alimentos.

Mas, essa negligência não é jovem. Quando trabalhei no Brasil em meados de 1998/99, e viajava todo o estado de Santa Catarina e Paraná, era comum ver caminhões abarrotados de animais vivos como porcos, bois e frangos, estacionados sob sol escaldante de 30/35 graus, enquanto o motorista almoçava ou dormia após o almoço. Era triste de ver o sofrimento destes animais sem água ou comida, agonizando sob o sol forte. Fico imaginando quantos acabam sucumbindo ao transporte, e duvido que sejam descartados. O estado Brasileiro não apenas permite estes abusos como é negligente na sua fiscalização. A legislação Brasileira permite a criação de animais em condição de total confinamento. Essa prática é ilegal na Europa. Mas, o Brasil segue a legislação Americana que permite essa prática absurda além do uso de químicos comprovadamente cancerígenos para acelerar o crescimento e engorda dos animais. Na Europa o porco é criado solto como o gado, e o mesmo acontece com os frangos que são recolhidos no fim do dia e novamente soltos em campo aberto e apropriado na manhã seguinte. A negligência com o alimento vivo no Brasil não é nenhum segredo. O caso só veio a tona com tanta força agora porque a grande mídia deu a sua “benção”. Mas os videos de maus tratos com alimentos vivos e a má higiene no processamento de carnes e outros alimentos perecíveis é mais antigo do que a Constituição, e certamente mais antigo do que o YouTube.

Mas o Brasileiro aceita a condição. “Não tem mais jeito”, “Não vai mudar nunca”, dizem, sem perceber que essa atitude é a aceitação da condição de viver no caos da lama. O mais incrível é que o Brasileiro usa sua incrível capacidade de adaptação para encontrar conforto na lama ao invés de usa-la para sair dela. Quando perguntei no FaceBook se alguém deixaria de comer carne ao menos um final de semana, as respostas foram unanimas. Ninguém deixou de comer carne podre! Aceitamos a condição de nos alimentarmos com lixo, e criticamos ou denunciamos quem se recusa a fazer o mesmo.

É interessante a arrogância do Brasileiro. Certa vez arrumei uma briga feia com meus irmãos e meu pai porque chamei os Brasileiros de arrogantes. Meu pai chegou a sair da sala com raiva. Mas eu fico imaginando. Chamamos os Argentinos de porcos, arrogantes, sujos e encrenqueiros. Mas é exatamente o Brasileiro que polui e suja o mar, as praias e os rios do Brasil destruindo seu meio ambiente tão rico. É o Brasileiro que joga o lixo na rua e deixa as lixeiras vazias. É o Brasileiro que grita É CAMPEÃO antes mesmo do jogo começar. É o Brasileiro que cai na porrada por causa de uma partida de futebol, mas é incapaz de brigar por um país melhor. É o Brasileiro que tira onda do Reino Unido por ter assumido o lugar de quinta maior economia do mundo, mesmo que o povo esteja morrendo nas mãos de bandidos e políticos corruptos e o titulo de quinto lugar tenha durado menos de seis meses. E é o Brasileiro que não Ama o Brasil 10% do quanto o Argentino Ama a Argentina. E é o Argentino que é mundialmente reconhecido por ter a melhor qualidade de carne do mundo!

A verdade é que o Brasileiro não se importa se a cerveja é feita de milho, se a carne é podre, se o salgadinho pega fogo, se o whisky é falso, se o político é ladrão, se o pacote de arroz de 1kg na verdade tem só 750 gramas, se só Deus sabe o que tem dentro da linguiça. A verdade é que o Brasileiro aceita essa condição e é capaz de encontrar qualquer desculpa esfarrapada para justificar a situação. O Brasileiro continua comprando, comendo, votando e encontrando conforto na lama. Assim como um dependente químico, ninguém pode ajudar alguém quem não queira ser ajudado. A mudança só ocorre quando a decisão de mudar vem de quem deseja mudança. O Brasileiro precisa entender que ele, como indivíduo, precisa ser o instrumento dessa mudança. Sem a consciência de que o Brasil é feito pelo conjunto das atitudes diárias de cada Brasileiro, a carne continuará sendo podre!

 

 

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