By: Michaell Lange,
London, 28/12/16 –
É comum ouvirmos a frase “gato por lebre” no sentido de comprarmos um produto que se parece com aquilo ofertado, mas que na verdade se trata de um produto totalmente diferente. Normalmente, o gato por lebre significa um produto similar, mas de valor e/ou importância muito inferior ao que realmente buscávamos. O mesmo problema ocorre em quase todos os sentidos da vida, incluindo a política. Quantas vezes votamos em gato e elegemos lebre? O rótulo de uma mesma proposta política pode vir com diferentes faces e cores. Na maioria das vezes, trás um apelo direcionado a um grupo específico de pessoas (eleitores clientes). Essa questão também vale para a religião, onde charlatões usam da palavra sagrada para enriquecerem às custas da humildade, do medo, e do drama humano. Mas não é de religião que iremos falar aqui.
O que é importante para todo eleitor e futuro eleitor, é fazer uma boa analise não apenas do rótulo, mas também no produto, antes de compra-lo, elege-lo ou aceita-lo. Antes de decidir, pergunte-se; Será que o rótulo realmente corresponde ao produto? Será que o político realmente corresponde a sua proposta? A propaganda enganosa é um problema epidêmico na política e é preciso muita atenção na hora de escolher nossos representantes.
Você ja se decepcionou com o tamanho do hamburger porque na foto promocional ele parecia muito maior? A verdade é que na maioria dos casos, quando elegemos um político, estamos elegendo gato por lebre. E a culpa pela falta de atenção é toda nossa! Se alguém lhe oferecer uma Mercedes- Benz zero quilômetro pelo preço de um Chevette velho, é claro que você irá desconfiar. A questão é; Por que não desconfiamos quando um político, ou um partido político, nos oferece a salvação e a solução de todos os nossos problemas, em troca do nosso voto? Para ser ainda mais direto, por que elegemos e reelegemos políticos corruptos (gato)? O voto parece ser um produto barato, mas na verdade pode ser mais caro do que você imagina. O voto pode custar seu emprego. Sua aposentadoria, a saúde da sua família e a educação dos seus filhos. Quanto lhe custaria tudo isso? Não vou citar exemplos Brasileiros para não comprometer a imparcialidade deste artigo, apesar dos inúmeros exemplos que poderíamos citar aqui. Então, para minimizar a polêmica do assunto, usaremos exemplos de outros países. Vejamos; na Holanda, Geert Wilders é o líder do partido de extrema direita chamado “Party for Freedom” ou Partido para a Libertação. Você percebe o apelo que o nome do partido promove? Isso não significa que o partido político liderado pelo Sr Wilders irá promover a libertação da Holanda, até porque a Holanda ja é um país livre, além de ser um dos países mais desenvolvidos do mundo. Por tanto, o Party for Freedom é gato, não é lebre. Na França, um dos maiores partidos políticos do país chama-se “The National Front” ou Partido da Frente Nacional. Novamente, um nome apelativo em um país livre e desenvolvido que não sofre com qualquer ameaça de invasão. No Reino Unido, o UKIP – United Kingdom Independence Party – ou Partido da Independência do Reino Unido, é mais um exemplo. O Reino Unido é um país independente e livre, mas na visão do líder do UKIP, Nigel Farage, o país é refém da União Européia, ou seja, pura demagogia. É gato por lebre! O que todos estes partidos tem em comum é o apelo populista para obter o poder. Quando você encontra partidos com nomes apelativos sobretudo em países ricos, livres e desenvolvidos, a libertação e a independência dos nomes estão na verdade, escondendo a intolerância contra imigrantes,, negros e religião. De fato, todos os partidos políticos acima, são anti-imigrantes, anti-EU e anti-Islamismo, o que sugere a teoria do gato por lebre ja que, a liberdade e a independência presente no rótulo, na verdade significam, perseguição, discriminação e proibição, o oposto de liberdade e independência. O rótulo não condiz com o produto e por tanto, é gato.
Vejamos outros exemplos:
O Comunismo – Karl Marx pensou que tinha uma grande idéia que poderia ser a solução para salvar a humanidade das garras do Capitalismo. Para que sua idéia fosse aceita pela maioria do povo, havia a necessidade de um apelo populista ou seja, que fosse aceito pela classe operária. O rótulo para o seu produto também precisava ser apelativo, mesmo que na realidade o rótulo não descrevesse com honestidade seu produto. Karl Marx escolheu chama-lo de Comunismo. Na concepção da palavra, comunismo origina-se do comum ou seja, que beneficia a maioria. Por isso, quando ouvimos alguém falar em “governar pelo bem comum”, estamos falando na verdade, do comun-ismo ou comunismo, de governar pelo bem de todos. Mas o Comunismo de Marx não era bem isso. Vejamos: Quando Marx dizia em seus escritos que toda forma de produção deve estar sob o controle do estado, Marx não esta falando de comunismo, mas sim de totalitarismo. A palavra totalitarismo tem origem na palavra total, que na política se refere ao controle total, seja por um ditador, imperador ou Rei. Por tanto, regimes como o de Cuba e Coreia do Norte, não são sistemas Comunista, mas sim de totalitaristas. O estado e seu ditador, tem o controle total do país. Mas vale ressaltar que a teoria de Marx não é uma teoria inútil, muito pelo contrário. Na verdade, Marx é essencial para qualquer estudante de política e relações internacionais. Ninguém até hoje soube descrever o Capitalismo de forma tão brilhante e detalhada quanto Marx. Seus trabalhos, sobretudo os livros “O Capital” e “O Manifesto Comunista”, deveriam ser lidos por todos que tenham qualquer interesse em entender como funcionam os sistemas políticos que dominam o mundo hoje.
O Free Market – A palavra free market significa mercado livre ou seja, sem barreiras e sem regulamentação. A idéia por trás do nome é justa pois, promove a livre concorrência. A concorrência beneficia o consumidor com preços baixos e de qualidade. Mas não é isso que vimos acontecer mundo afora. De fato, o free market não existe. Essa teoria foi usada estrategicamente contra países emergentes para que multinacionais, sobretudo da Europa e EUA, tivessem livre acesso a seus mercados. Por outro lado, empresas de países emergentes, encontram todo tipo de barreiras e regulamentação para venderem seus produtos na Europa e EUA. A agricultura da União Européia por exemplo, recebe um subsidio anual superior a 60 bilhões de Euros. Por conta disso, agricultores Europeus conseguem vender seus produtos abaixo do preço de custo, formando uma barreira protecionista que impede a livre competição de produtos semelhantes de países não Europeus. A Africa é a grande prejudicada nesse caso ja que, o continente é responsável por grande parte da produção agrícola mundial. O Brasil tem a mais de 10 anos, um processo na OMC contra o subsidio do Algodão Americano que impede que o Algodão Brasileiro seja competitivo no mercado internacional. O mesmo ocorreu com a empresa Brasileira Embraer, que ganhou um processo na justiça contra a empresa Canadense Bombardier, por conta dos subsídios pagos pelo governo Canadense que possibilitava a Bombardier a vender seus aviões a um preço muito abaixo dos aviões da Brasileira Embraer. A política protecionista é a maior evidencia de que o Free Market não existe ou seja, é gato por lebre. O rótulo prega o livre comércio, mas o produto verdadeiro não tem nada de livre.
Os exemplos são infinitos. Produtos com rótulos para promover o bem, mas que promovem o mau. Sistemas que prometem o bem comum, mas na verdade promovem o totalitarismo. Partidos que prometem a libertação, mas no fundo promovem a divisão, a discriminação e a proibição. Idéias de liberdade que na verdade aprisionam. Num mundo dominado pela informação 24 horas, é cada vez mais fácil vender gato por lebre. Manter a mente aberta e em alerta total, é a grande arma contra produtos nocivos, com rótulos de chocolate. A oferta de libertação pode muito bem significar seu aprisionamento. Todo indivíduo tem a responsabilidade de zelar por sua liberdade de pensamento. Se continuarmos com o atual comportamento passivo diante de tanta oferta fraudulenta, seremos continuamente vitimas da nossa própria indolência. Todo cuidado é pouco!
Feliz 2017!