ELEIÇÕES MUNICIPAIS 2016: A NOVA GEOGRAFIA DA POLÍTICA NACIONAL

By: Michaell Lange.

London, 03/10/16 –

O resultado das eleições municipais de 2016 no Brasil revelaram uma mudança na geografia política do país. O modo como os Brasileiros votaram surpreendeu, mas também comprovou velhos hábitos. As agências de comunicação mais uma vez, influenciaram o eleitorado, e os principais institutos de pesquisa do país se equivocaram de forma extraordinária. O PT levou a surra merecida. Mas o PMDB e o PSDB surpreendentemente, não só evitaram a surra merecida como ganharam força em quase todo o país.

Um dos fatos mais marcantes destas eleições foi a expressiva rejeição da esquerda pelos eleitores Brasileiros, sobre tudo pelo PT. O Partido dos trabalhadores foi linchado nas urnas e perdeu grande parte da sua força expressiva no país, incluindo locais onde o PT historicamente sempre foi forte como no ABC Paulista e grandes cidades do Norte/Nordeste. Na cidade de São Paulo, o PT sofreu uma de suas piores derrotas da história. O atual prefeito Fernando Haddad (PT) que concorria a reeleição, perdeu feio ainda no primeiro turno para o candidato do PSDB João Doria. O tucano obteve uma expressiva margem com um total de 53, 29% dos votos, contra apenas 16,70% de Haddad. Das 55 cidades que terão segundo turno, o PT esta presente em apenas uma, Rio de janeiro. Somando os partidos de esquerda, apenas 6 estão na disputa pelo segundo turno. De Norte a Sul do Brasil a esquerda perdeu força. No Rio de Janeiro, a esquerda disputará o segundo turno com Marcelo Freixo do PSOL contra Crivella do PRB.

É perfeitamente compreensível a rasteira que o PT sofreu neste Domingo (2) depois dos grandes escândalos de corrupção que dominaram a política nacional nos últimos anos, e terminaram com o impeachment da presidente Dilma Rousseff. Mas cabe aqui uma rápida análise com relação aos outros partidos não menos corruptos que o PT, e que ao contrario do partido dos trabalhadores, ganharam expressão em quase todo o Brasil. A rejeição ao PT poderia levar a uma conclusão de que o povo votou contra a corrupção. Mas, como explicar o ganho em expressividade de partidos como o PSDB e o PMDB, que foram os dois partidos juntamente com o PT, que mais apareceram em escândalos de corrupção nos últimos anos? O PMDB foi aliado do PT por 13 anos e teve um dos seus maiores nomes, Eduardo Cunha, cassado por corrupção e lavagem de dinheiro. O PSDB liderado por Aécio Neves, foi um dos mais citados nas investigações da Lava Jato por envolvimentos em corrupção e lavagem de dinheiro .

Uma possível explicação seria a forte exposição que a grande mídia deu ao PT durante os escândalos do Mensalão e Petrolão, sobretudo no caso do Impeachment da presidente Dilma Rousseff. Em contra partida, o PSDB e o PMDB sofreram menos pressão da mídia e foram, segundo alguns, blindados por grandes agências de noticia do país. É difícil julgar ao certo o que levou o eleitor a rejeitar o PT de forma tão clara, mas recompensar ao mesmo tempo, o PSDB e o PMDB que caminharam de mãos dadas em alguns dos maiores escândalos de corrupção da história do Brasil. O escândalos da merenda escolar em São Paulo teve pouca exposição na TV e deu a impressão de que o PSDB acabou se beneficiando da situação. Deveria ter sido uma mensagem clara de rejeição a corrupção, mas o eleitor preferiu não punir o PSDB e o PMDB da mesma forma que fez com o PT. Uma outra possibilidade pode ter sido o fator Sergio Moro. O Juiz Federal que prendeu grandes e velhos caciques da política Brasileira e ganhou notoriedade internacional, apesar de algumas de suas ações terem sido questionadas por colegas que duvidaram da legalidade de algumas prisões autorizadas por ele, também parece ter tido grande influência no eleitorado nestas eleições. Moro foi aplaudido por eleitores ao votar em Curitiba. Dias antes das eleições, Moro havia autorizado a prisão de dois ex-ministros do governo Lula, e isso também pode ter tido peso na forma como o eleitor resolveu votar. É visível que muitas agências de comunicação como a Rede Globo, a Joven Pan, a Veja, Folha de São Paulo entre outras, sempre apoiaram partidos e candidatos da direita. Estas mesmas agências foram responsáveis por uma grande campanha anti-PT que tomou conta do país inteiro. Esse poder de alcance, muito provavelmente, teve grande peso na hora do eleitor punir o PT. Infelizmente e surpreendentemente, o PMDB e o PSDB escaparam quase ilesos. De fato, o PSDB avançou muito em todo o Brasil.

Um outro fato curioso e que sempre causa polêmica depois das eleições no Brasil, é o questionamento com relação a segurança da urna eletrônica Brasileira. Pode ser apenas um sinal do conhecido preconceito com produtos nacionais, mas desde a reeleição do presidente Lula, a urna eletrônica vem sofrendo fortes críticas com relação a sua possível vulnerabilidade. Mesmo políticos que foram eleitos pela mesma urna que elegeu Lula e Dilma, afirmam que as urnas eletrônicas podem ser facilmente fraudadas. O deputado federal Jair Bolsonaro, que foi um dos eleitos pela mesma urna que elegeu Dilma, chegou a criar um projeto para tornar a urna eleitoral mais segura, mas teve seu projeto rejeitado pelo governo. As alegações de que o PT estivesse fraudando a urna eletrônica para poder reeleger seus candidatos, perdeu sua justificativa depois da histórica surra deste Domingo (2). Cabe agora a pergunta; será que os mesmos críticos como Jair Bolsonaro, continuarão por a segurança das urnas em cheque agora que os resultados beneficiaram a direita? ou se calarão e não falarão mais sobre isso? Também cabe semelhante pergunta a esquerda; será que eles assumirão o papel de criticar a credibilidade das urnas eletrônicas agora que os resultados não foram favoráveis a seus partidos políticos? O tempo certamente nos dirá.

Uma outra questão que ficou evidente nestas eleições foram as pesquisas de intensão de voto, que apresentaram dados completamente divergentes da realidade demonstrada pelos resultados das eleições. A pesquisa de boca de urna do Ibope SP, apontava para um segundo turno entre Doria com 48% e Haddad com 20%. Doria acabou vencendo em primeiro turno com 53,29% dos votos. A pesquisa foi divulgada pelos principais meios de comunicação do país e demonstram a fragilidade na credibilidade da informação que o eleitorado Brasileiro esteve exposto. No Rio de Janeiro o erro foi ainda mais grotesco. Segundo o Ipope, Marcelo Crivella teria 38% dos votos contra 14% de Freixo. No resultado oficial, Crivella ficou 27,78% contra 18,26% de Freixo. Uma disparidade inaceitável considerando o grau de influencia que estas agências exercitam em todo o país. O Datafolha também apresentou grandes diferenças na comparação com os resultados publicados pelo Ibope e também com relação ao resultado oficial das eleições.

Em conclusão, a forte punição que o eleitorado Brasileiro merecidamente deflagrou contra o PT e a esquerda de modo geral, deveria ter sido estendida também aos partidos que igualmente participaram dos escândalos de corrupção e lavagem de dinheiro, nos quais o PT esteve envolvido. Punir apenas um dos lados, certamente transmitiu a mensagem errada. Para o PT, ficou a lição de que não basta boas políticas públicas para se manter no poder. É preciso rejeitar o jogo sujo que rodeia o governo federal e criar alianças saudáveis e inteligentes entre todos os principais partidos políticos. Por 13 anos o PT jogou o jogo político sem se preocupar em muda-lo. Hoje, o PT e a esquerda colhem as consequências dessa negligencia. Ja o PMDB provou que sua velha estratégia continua dando certo. E para que mudar um time que esta ganhando o jogo que ja dura o mesmo tempo da sua própria existência? O povo, através do voto, é o único que mudar isso, mas tem demonstrado pouco interesse em faze-lo. Se a punição do PMDB igualasse a do PT, nem a presidência da república o PMDB teria mais. Mesmo com um dos seus principais caciques sendo cassado por corrupção e lavagem de dinheiro, as eleições municipais de 2016 provaram mais uma vez, que o poder exercido por esse partido que hoje controla a presidência da república com uma figura no mínimo arisca, é hegemônico e quase ilimitado. O PSDB, surpreendentemente cresceu em todo o país. Essa talvez tenha sido uma das maiores surpresas destas eleições. Um partido tão desgastado, corrompido e sem credito ou moral, conseguiu um daqueles milagres que ninguém acreditava ser possível.  As eleições municipais de 2016 mudaram a geografia política no país. Apesar do Brasil continuar dividido, agora é a esquerda que tenta juntar os frangalhos e recomeçar de novo. O desafio sera brutal. Serão poucos os que apostarão que o incrível talento de Lula em articular com a oposição será suficiente para recuperar um partido tão desgastado. A direita até este Domingo (2), não tinha se quer candidato para disputar as eleições de 2018. Agora eles tem. A vitória de Doria no primeiro turno das eleições em São Paulo, faz de Geraldo Alkmin, um candidato fortissimo para 2018. A vitória na capital Paulista, dará ao seu atual governador, oportunidade única de demonstrar a sua capacidade de transformar o estado de São Paulo e chegar a 2018 com plenas condições de vencer a eleição presidencial. Lula precisará de muita saúde, disposição e talento articulador para competir contra essa nova força tucana. Mas, antes de qualquer coisa, Lula precisará se manter longe da cadeia ou de qualquer condenação que o impeça de ser candidato em 2018. A campanha para a presidência da república ja começou!

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