By: Michaell Lange,
London, 08/08/16 –
É preciso interromper o contínuo sentimento de um dia ter orgulho e no outro vergonha de ser Brasileiro
Durante os dias que anteciparam a cerimônia dos jogos Olímpicos do Rio de Janeiro, alguns amigos e conhecidos Europeus, me perguntavam se eu assistiria a cerimônia de abertura. Minha resposta sempre foi: Sim claro! Mas dentro do meio peito o coração andava apertado, angustiado. Eu estava na verdade, sentindo medo. Era como uma certeza de que mais uma vez, passaríamos vergonha perante o resto do mundo. E toda essa tensão não era injustificada, muito pelo contrário, o Brasil vinha nos últimos anos, batendo todos os records de absurdos possíveis nos seus 194 anos de história. O vexame dos 7 a 1, o crime sem culpado em Mariana, o Impeachment votado por criminosos em Brasilia, o teatro da vergonha no congresso nacional. Como acreditar num país que declara amor e orgulho a si mesmo e ao mesmo tempo é o grande vilão da sua própria miséria? Não, é claro que eu não acreditava mais. A grande maioria dos Brasileiros parecem não acreditar mais. O objetivo é a sobrevivência, os sonhos são realizados pelas novelas. Planos futuros é o que faremos no próximo final de semana. É claro que perante tanta estupidez, violência e corrupção, minha esperança de um Brasil que da certo estava a beira do abismo. Mas eu também celebrei com muita alegria e com a inocência de um típico Brasileiro tolo, quando nosso país ganhou o direito de sediar a copa do mundo do esporte mais amado do planeta, e o maior evento esportivo do mundo, as Olimpíadas. Era a oportunidade que precisávamos para o Brasil crescer de fato, pensei na ocasião. Com a economia em alta, os dois maiores eventos esportivos do mundo, o que mais nos faltava para encher o Brasileiro de orgulho e entusiasmo? Pensei, com a inocência tola de um Brasileiro. Descobri que nos faltava todo o resto.
Depois de 13 anos vivendo no Reino Unido, aprendi que “ser”, vai muito além da simples existência. Para sermos de fato, é preciso viver a verdade que desejamos, e não apenas esperarmos que ela aconteça, ou que os outros a tragam sem a sua contribuição pessoal. O coletivo para ser, precisa do grupo. O plural de um, não existe. A realidade de uma sociedade é formada pelo conjunto das atitudes diárias de seus sócios. O Brasil por tanto, é o que os Brasileiros são no dia-a-dia, e não aquilo que eles dizem que é, ou desejam que seja. O orgulho não é possível ser antecipado. Ele somente é, depois que o “ser” deixa de ser apenas um desejo ou um objetivo, e passa a ser a verdade. O orgulho do futuro não existe. Não existe estudante orgulhoso da sua graduação. Não existe desempregado orgulhoso do seu futuro emprego. Não existe solteiro orgulhoso do seu casamento. Existe apenas o orgulho do passado, se este foi verdade, e o orgulho do presente, se o presente for verdadeiro. O Amor transcende todo o resto, mas não pode ser confundido com paixão. A paixão é como o nacionalismo. É intenso e forte, mas ausente de razão e inteligência. O Amor, nessa comparação, seria o patriotismo, que cuida e quer bem o tempo todo. Por isso, questiono o Brasileiro quando canta alto nos estádios e nos protestos; “Ah eu sou Brasileiro com muito orgulho e muito amor”. Infelizmente não somos. Nós apenas desejamos e sonhamos ser. O Brasileiro deseja “ser” um Brasil que ainda não é verdade, e que precisa de atitude individual para poder ser então, plural e coletivo, verdadeiro. O orgulho Brasileiro, ainda é um nacionalismo tolo, irracional, impulsivo, militar, e imaginário como a falsa fé que precisa de força física para existir. A fé verdadeira é silenciosa, não precisa aparecer. O Brasileiro que ama e tem orgulho de verdade não precisa gritar, ele apenas existe na sua forma natural e nas suas atitudes; esta presente constantemente como o amor de uma mãe que não se pode ver, mas esta sempre lá, presente. Não existe a necessidade de demonstrar. A vibração de um gol é alegria momentânea pois, logo queremos outro. O Amor e o orgulho verdadeiro é como o silêncio do universo que não precisa de som para demonstrar sua grandeza.
E por falar em grandeza, Joaquin Osório Duque-Estrada, não mentiu quando escreveu: “…Gigante pela própria natureza…”. O potencial do nosso país é tão grandioso e óbvio que revolta só de imaginar o quanto milhões de Brasileiro sofrem todos os dias apenas para garantir sua subsistência. É como se o Brasil fosse uma Bugatti Veyron e o Brasileiro, um motorista que nunca dirigiu um carro. Quando meus amigos Britânicos e Europeus me perguntam o que esta acontecendo com o Brasil, eu dou o exemplo da Bugatti sem motorista habilitado porque de fato, é isso que nos falta, uma habilitação para dirigir um carro potente sem causar um acidente a cada curva da estrada do desenvolvimento.
Na Sexta Feira, dia da cerimonia de abertura dos jogos Olímpicos do Rio, eu ja estava sofrendo antes mesmo do inicio. Sofrimento, diferentemente de orgulho, pode ser sentido antecipadamente como forma de ansiedade e medo. Sentado em frente a TV assistindo o pré-show da BBC, meus pensamentos eram só pessimismo. Típico de um Brasileiro que não acredita em si mesmo. Era como assistir o Rubens Barrichello na F1; você sabe que ele vai terminar em quinto. Mas eis que o gigante pela própria natureza por vezes, nos da um daqueles chacoalhões que nos acorda para as potencialidades que nosso país possui e usufrui tão pouco. O Brasil ganhava ali sua primeira medalha de ouro. A abertura dos jogos Olímpicos se resumiram em três palavras: Simples, barato, e espetacular! A simplicidade do nosso povo foi perfeitamente incorporada nas nossas condições econômicas, e espetacularmente exposta numa explosão de cores e movimentos que refletiram a riqueza cultural e diversa do nosso país de maneira sublime. Foi difícil conter as lágrimas. Nosso patrimônio artístico e cultural deixou sua mensagem de que cultura e arte não são coisas de vagabundos e comunistas. A arte e a cultura são elementos que dão forma a identidade Brasileira e não podem ser negligenciadas por interesses ideológicos e partidários.
Mais uma vez provamos que somos capazes de criar espetáculo, mesmo nas condições mais adversas. Somos capazes de superar todas as dificuldades e surpreender os maiores críticos. Somos capazes de alcançar nossos objetivos e obter sucesso por nossas próprias mãos. Tudo que precisamos fazer é acreditar em nossa própria capacidade. O Brasileiro é um povo resiliente, empreendedor, lutador e corajoso. É fato que nos falta inspiração, mas como ficou demonstrado na cerimonia de abertura dos jogos Olímpicos; nossa cultura, nossa história e nossa arte, podem ser nossas inspirações que iluminará o difícil caminho que nos levará a um perpétuo processo de desenvolvimento sócio/econômico que beneficiará todos os Brasileiros. O Brasil tem condições de ser verdadeiramente uma história de sucesso, e isso ja ficou evidente em inúmeras ocasiões. Mas para que o sucesso aconteça, precisamos eliminar nossa tendência auto-destrutiva que historicamente nos acompanha e nos freia, e reconhecer que nossas diferenças ideológicas e culturais não são partes de um problema mas sim, partes da nossa riqueza cultural e diversa que fazem do Brasil um país único. Precisamos acabar com o ciclo do sentimento que nos faz ter orgulho de ser Brasileiro um dia, e sentir vergonha no outro. Dessa forma, poderemos verdadeiramente, sermos Brasileiros com muito orgulho e muito Amor.