Mensagem De Final De Ano Com Espinho

By: Michaell Lange,

London, 23/12/15 –

Mais um final de ano chega com a mesma rapidez com que os meses desaparecem no passado esquecido e sem interesse. O objetivo desse artigo não é trazer uma mensagem de Natal ou promover falso otimismo. Meu objetivo aqui é alertar o leitor a desenvolver uma capacidade mais apurada de reconhecer a atual situação da sociedade em que vivemos e perceber a importância do seu papel social na manutenção da nossa sociedade.

As luzes de Natal, as musicas natalinas e as festas de final de ano, nos garantem a sensação ilusória de que as pessoas estão felizes e de que tudo esta bem em nosso minúsculo planeta. Um exército de pessoas sem dinheiro, invadem as lojas para garantir as dividas para 0 ano novo que se aproxima rapidamente. A musica alta, o toque constante dos sinos, nos tornam uma espécie de zumbis enfurecidos ou vampiros com sede de compras. A felicidade parece precisar de um cartão de credito para ser feliz. Comprar, se tornou nosso refugio contra a doença social. É a droga que alivia a infelicidade do deprimido. Não temos mais tempo para viver e mesmo assim, continuamos sem dinheiro e sem felicidade. A felicidade foi substituída pela prioridade financeira, mas não acredito que somos todos culpados. Muitas pessoas são tão inocentes que vivem a vida inteira sem perceber que sua vida foi usada e abusada por terceiros, para o beneficio único e exclusivo de terceiros. Compulsivamente, compramos tudo que queremos para pagar depois, porque tudo se resolve depois. Essa é a mentalidade que vende nosso futuro sem ao menos termos vivido o presente.

Eu também sinto essa nostalgia altamente contagiante de final de ano. Também sinto vontade de comprar, mesmo sem dinheiro. Sou parte dessa cultura, sou parte do problema da minha sociedade e parte do problema do meu minúsculo planeta. Eu também sinto a injeção de otimismo e vibração positiva, mas a realidade que vejo ao meu redor não me deixa em Paz nem por um minuto. Talvez eu consiga ver através dos olhos das pessoas e de seus sorrisos, mesmo sem querer, que todo o entusiasmo de final de ano é apenas uma fuga ou um refugio onde as pessoas encontram uma oportunidade de se sentir deslocadas da realidade diária de suas vidas e se sentirem felizes ao menos uma vez no ano, mesmo que seja apenas por um momento. Por mais que eu seja feliz de fato, não consigo evitar um certo sentimento de culpa por ter alcançado algo que a maioria das pessoas nem sabem ao certo, o verdadeiro significado . Confundimos felicidade com alegria, satisfação e prazer. Comprar um carro não é felicidade, é satisfação. Encontrar amigos e parentes não é felicidade, é alegria. Um orgasmo não é felicidade, é apenas prazer. Alegria, satisfação e prazer são sentimentos intensos mas duram pouco e logo desaparecem. O carro novo deixa de ser uma satisfação algumas semanas depois. O encontro com amigos e parentes dura apenas algumas horas, depois, cada um segue sua vida. O prazer de um orgasmo não vai além de 10 segundos e isso não pode ser confundido com felicidade. Felicidade é algo menos intenso, mas é duradouro porque faz parte do seu centro de equilíbrio. Essa linha imaginária só pode ser criada por você, mesmo que a maioria das pessoas prefiram deixar esse trabalho nas mãos de outras pessoas que nem sempre tem a sua felicidade como prioridade. Dessa forma, milhões de pessoas vivem a vida em busca de uma felicidade sem nem ao menos saberem o que é isso. Não é possível encontrar algo se você não sabe o que esta procurando. A percepção destes problemas me faz sentir culpa de ser feliz. Como manter minha felicidade com tanta infelicidade a minha volta?

Nesta época do ano fico a me questionar sobre o que fiz durante os últimos 12 meses para melhorar o mundo em que eu vivo, e quase sempre chego a mesma conclusão de que, fiz quase nada ou muito pouco. Certamente, menos do que poderia ter feito. Com exceção do meu comportamento, que acredito ser normal, apesar de que hoje em dia, promover o bem, procurar ser justo, honesto, imparcial, e não cometer crime, seja visto pela sociedade como algo extraordinário, acho que fiz muito pouco para ajudar as pessoas que dividem esse mundo junto comigo. Mais uma vez fui parcialmente carregado pela onda descontrolada do condicionamento social.

Talvez, uma justificativa plausível para essa inércia humana promovida contra si mesma, seja o resultado do nosso atual estilo de vida, ou sera que deveríamos chamar isso de, “nível patológico” em que nos encontramos hoje? Sim, porque vivemos em uma espécie de “survival mode” onde o objetivo principal é sair de casa cedo e conseguir retornar vivo, se possível, com um pouco de dinheiro para pagar as contas que não param de chegar. Vivemos uma corrida impossível de ser vencida, com exceção daqueles 1%.  Essa realidade de sobrevivência é perceptível aqui no Reino Unido e no Brasil e muito provavelmente, reflete a realidade do mundo inteiro. As pessoas não saem de casa para viver e serem felizes, e colaborarem com a sociedade, e serem boas para as pessoas, serem cordiais, serem gentis e ajudarem-se de uma forma a tornar a sociedade em que vivemos um lugar melhor para se viver. O instinto de sobrevivência não permite esse tipo de comportamento. Tudo passa a ser uma ameaça a sua segurança e a sua sobrevivência. Se alguém oferece ajuda na rua, logo pensamos que a outra pessoa quer algo em troca, ou quer roubar, ou fazer algo de mal. A sociedade que vive em estado de alerta máximo, vive com medo e se torna incapaz de ser feliz. Torna-se vitima de si mesma. Mas, é certo afirmar que ainda existam lugares onde ainda ha espaço para cordialidade, gentileza e confiança no próximo. O próprio Reino Unido ainda é um exemplo disso. Até no Brasil ainda é possível encontrar lugares assim. O problema é que estes lugares estão ficando cada dia mais escassos e eu não vejo luz no fim do túnel. Por isso, no final do ano todo mundo procura ser “feliz”. Criamos estas datas para reflexão e renovação mas, a verdade é que não refletimos e não renovamos nada além da própria continuidade do que ja esta estabelecido, mesmo que seja dura e infeliz. O Natal virou sinônimo de consumismo, de festas e férias. O Cristo e seus ensinamentos viraram supérfluos. Você conhece alguém que reflete sobre suas atitudes nos últimos 12 meses e planeja melhorar nos próximos 12 meses que vem pela frente?

Passamos a viver muito menos. Passamos a viver apenas o Domingo, o feriado, o Natal e o 31 de Dezembro. Mas, estas datas poderiam ser usadas para o exercício da nossa participação social e sanidade mental todos os dias. Se você acordou de mal humor, o meio dia é o seu 31 de Dezembro porque o restante do dia sera melhor. Se a semana foi ruim, o Domingo é o seu 31 de Dezembro, porque a semana que vem vai ser melhor. Se o mês foi ruim, o final do mês é o seu 31 de Dezembro porque o mês que vem vai ser melhor. Esse exercício diário de renovação pode nos dar a cura para nossa grave doença social. O mesmo otimismo contagiante de final de ano que invade nossas casas todos os anos, mesmo quando não ha muito a ser comemorado, pode passar a ser um sentimento compartilhado diariamente nas ruas das nossas cidades. Mas sera que estamos pensando no que fizemos de errado ou o que não fizemos corretamente no passado? Como tornaremos possível que o resto do dia seja melhor, que a semana que vem seja melhor, que o mês que vem seja melhor e que por consequência, o ano que vem seja melhor?

O que percebo é que cometemos os mesmo erros todos os anos e assumimos num ato de fé, que esse período de final de ano irá nos trazer renovações e mudanças como um presente de Deus, sem precisarmos fazer nenhum esforço, sem a necessidade de reflexão sobre nossas atitudes passadas, sem o planejamento e o compromisso de sermos pessoas melhores no dia seguinte. Essa ilusão esta matando a sociedade humana. Não é possível ser feliz e viver em Paz em sociedade tendo um comportamento egoísta e individualista. A vida em sociedade necessita de um senso de comunidade onde as pessoas compartilham o bem em favor do coletivo. Não existe sociedade de uma pessoa só. Não existe sociedade onde apenas um sócio assume todas as responsabilidades dos outros sócios. Somos todos sócios da cidade que vivemos, somos sócios do estado e do país em que vivemos e somos todos sócios deste minúsculo planeta em que habitamos.

Por isso, meu feliz Natal deste ano leva consigo um espinho com a intensão de fazer as pessoas acordarem para a importância da sua participação na vida das pessoas que junto com a gente, são sócias da nossa cidade e influenciam na nossa felicidade. Meu feliz Natal leva um alerta importante. Não temos o controle de todas as coisas, mas temos o controle sobre nossas atitudes, sobre aquilo que escrevemos, sobre as palavras que falamos. Temos o controle sobre nosso comportamento e sobre as coisas que promovemos. Se nesse ano que se aproxima, todos nós assumirmos nossas responsabilidades sociais, eu tenho certeza que 2016 sera um ano melhor que 2015. Mas isso não depende do governos nem de políticos. Isso só depende de você. Se você se comprometer em ser uma pessoa melhor em 2016, o Brasil sera sem dúvidas, um lugar melhor para se viver em 2016. Feliz Natal a todos e um excelente 2016 a todos os sócios da nossa sociedade.

 

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