By: Michaell Lange,
London, 14/11/15 –
Não existe justificativas para o assassinato de pessoas inocentes. Os ataques em Paris voltam a ser noticia no mundo, mas mais uma vez, somos induzidos a acreditar numa causa simples, um “ataque terrorista”. O rotulo “terrorismo” livra quase de imediato, qualquer responsabilidade do governo nesse tipo de atrocidade. São terroristas! Logo, somos todos vitimas inocentes, incluindo o governo, incluindo o presidente. Não existe questionamentos com relação a guerra contra o terrorismo que segundo seu criador, George W Bush, faria do mundo, um lugar mais seguro para se viver. Devemos nos perguntar se o mundo realmente esta mais seguro depois da guerra contra o terrorismo ter sido declarada após os ataques de 11 de Setembro de 2001 nos EUA. Devemos nos perguntar se as estratégias de guerra usadas pelos governos do Ocidente através da OTAN, tem sido eficazes, ou se estão exacerbando o problema. Os governos do Ocidente, envolvidos em ações militares no Oriente Médio e no Norte da Africa, precisam ser questionados sobre as consequências dos seus atos. França, EUA e o Reino Unido, declaram guerra contra o Estado Islâmico. Se estamos em guerra, de acordo com as leis internacionais, as atrocidades de ontem em Paris, não são ações terroristas, mas um contra ataque de uma entidade na qual a França esta em guerra. Nesse caso, os ataques do Estado Islâmico em Paris, não são diferentes dos ataques do Japão a Pearl Harbour ou os Ataques Nazistas em Londres durante a segunda guerra mundial. Claro que os governos da França, EUA e Reino Unido, preferem a idéia do terrorismo porque o terrorismo é injustificável, mas um ataque entres duas entidades em guerra faz parte da guerra. Os mortos em Paris na noite de ontem não seriam vitimas de terrorismo mas sim, vitimas de uma guerra declarada pelo governo Frances. Nesse caso isso teria dimensões inimagináveis no que se refere as responsabilidades do governo Frances com a segurança de seus cidadãos. Se a situação atual fosse vista como uma guerra, François Hollande estaria em sérios apuros.
Por tanto, a idéia do terrorismo é muito mais conveniente para os governos do Ocidente, mesmo que isso não diminua suas responsabilidades com a segurança dos seus cidadãos. Mas, por ser considerada uma ação terrorista, a mídia promove uma imagem de indignação e solidariedade com as vitimas ao invés de questionar o presidente da França sobre sua responsabilidade pelas mortes de cidadãos Franceses nas ruas de Paris. É evidente que o Ocidente esta em guerra. A França, os EUA e o Reino Unido, estão bombardeando o Iraque, o Afeganistão e a Síria todos os dias. Mais recentemente a Russia entrou na guerra para defender o governo Sírio a convite do presidente da Síria, que é um aliado Russo de longa data. A queda do avião Russo no Sinai a poucas semanas, pode ter sido também, mais um ataque de guerra que esta sendo considerado um ataque terrorista. Apenas nos últimos 16 meses, 15 mil civis Iraquianos foram mortos por bombardeios de aviões e Drones na guerra contra o Estado Islâmico, segundo levantamento de agencias humanitárias internacionais. Outras três milhões de pessoas foram desalojadas. A guerra na Síria ja matou 230 mil pessoas. Ao menos 4 milhões de refugiados Sírios ja deixaram o país.
O Presidente Frances declarou os ataques em Paris, um ato de guerra. Exatamente por ser um ato de guerra que isso faz dele, parte-responsável pelas mortes de inocentes nas ruas de Paris. A morte de milhares de inocentes em países do Oriente Médio tem repercução direta nos ataques e na insegurança de alguns países da Europa e EUA. Estes mesmos países, são acusados de crimes de guerra por instituições Ocidentais e pela própria ONU. As evidencias são numerosas. Ataques com drones em países soberanos é em si um ato de guerra. Vale lembrar que a guerra foi declarada contra uma entidade sem base fixa ou território ou seja, o inimigo é o Estado Islâmico e não o Iraque e a Síria. Por tanto, a morte de cidadãos Sírios, Iraquianos e Afegãos pelo exercito dos EUA, França e reino Unido são considerados um crime de guerra. Mais que isso, os ataques de drones estão matando civis inocentes em países membros da ONU. O ataque a um hospital da organização internacional Médicos Sem Fronteiras no Afeganistão em Outubro desse ano, deixou mais de 30 mortos. Segundo as leis internacionais, ataques a hospitais são considerados crime de guerra. Segundo a diretoria do MSF, as coordenadas exatas de todos os hospitais operados pela instituição são passadas para todas as forças militares com ações na região. Os EUA sabia exatamente onde estava o hospital e mesmo assim decidiu prosseguir o ataque.
Um grande numero de pilotos de Drones estão deixando o serviço militar por conta do crescente numero de inocentes mortos pelos bombardeios. Brandon Bryant, ex-operador de drones do exercito Americano, conta que viu homens, mulheres e crianças morrerem. O Americano relembra um ataque que ele não consegue esquecer que aconteceu quando operava um drone que investigava uma pequena cabana feita de barro, que servia como abrigo para cabras. Quando recebeu a ordem de atirar, Bryant disse que colocou a mira a laser no meio da cabana e seu colega apertou o botão do controle que fez o drone disparar um míssel no Afeganistão, 6.250 milhas de distância da sua base militar nos EUA. Bryant conta que o míssel levaria 16 segundos para o impacto. Faltando 7 segundos ele observava qualquer possibilidade de civis próximo do local e desviar o míssel, mas com 3 segundos do impacto, Bryant disse que uma criança apareceu ao lado da cabana. Era tarde demais, a cabana foi destruída e a criança desapareceu. Ações como essa são normais e ocorrem todos os dias, disse o ex-militar em entrevista ao site Truth Alliance Network.
As barbáries do Estado Islâmico são inegáveis. Não ha duvidas de que o Estado Islâmico precisa ser parado. Mas como destruir um inimigo que não tem base fixa? O Estado Islâmico esta infiltrado em quase todo o Oriente Médio e em quase toda a Europa. A França ja identificou alguns dos envolvidos nos ataques de ontem como sendo cidadãos Franceses orientados por militantes fora do país. É possível que os ataques desta Sexta Feira tenham sido em retaliação a morte do chamado Jihadi John, um cidadão Britânico que aparece em vários videos decapitando cidadãos Americanos e Europeus, apenas um dia antes dos ataques em Paris.
Por mais chocantes que tenham sido as mortes nas ruas de Paris, é importante lembrarmos que as ações do Ocidente em países do Norte da Africa e Oriente Médio, são de uma magnitude muito superior ao que se viu ontem em Paris, seja em números de inocentes mortos ou força militar. Os Estado Islâmico depende de pessoas dispostas a morrer em ataques suicidas. As forças militares Ocidentais possuem os mais avançados sistemas de guerra do mundo. Mesmo assim, foram incapazes de impedir ataques como o de ontem na França. É notório que a mentalidade Ocidental de resolver problemas com bombas, é uma estratégia falha. É importante ser considerado também que, a situação chegou a um ponto em que a diplomacia ja deixou de ser uma opção possível. “É muito mais difícil tentar ser meu amigo depois que você exterminou minha família”. A solução possível no momento, seria talvez, encontrar uma forma de bloquear o fornecimento de armas, munição, alimento e veículos usado pelo Estado Islâmico. Estimativas acreditam que o Estado Islâmico tenham 40 mil soldados. Alguém esta financiando esse exército. Fotos divulgadas nas redes sociais, mostram soldados do Estado islâmico em dezenas de pickups modelo Toyota Hilux, adaptadas com metralhadoras anti-aéreas. Estes veículos não são fabricados no Iraque, Síria ou Afeganistão. Por tanto, qual a origem destes veículos? Quem fez a importação? Quem vendeu? Quem pagou? como pagou? São perguntas importantes que precisam de respostas. Alguns veículos de comunicação do próprio Oriente Médio, acusam a Arabia Saudita de ser o principal financiador do Estado Islâmico. A Arabia Saudita é considerado um importante aliado pelos Britânicos, e seu líder costuma ser hóspede da Rainha no Buckingham Palace em Londres. Para acabar com as mortes de inocentes nas ruas da Europa e EUA, é extremamente importante que o Ocidente ponha um fim nos bombardeios e mortes de inocentes no Oriente Médio e adote uma estratégia que inclua o desenvolvimento dos países da região juntamente com o fim dos financiamentos de grupos rebeldes como o Estado Islâmico. Essa guerra é impossível de ser vencida com bombas. Se os governos do Ocidente continuarem sua campanha militar sem um plano claro para o futuro da região, o mundo continuara sendo um lugar menos seguro do que costumava ser antes do 11/09. A Europa esta pagando um preço alto pela incompetência de seus governantes e enquanto a estratégia continuar sendo a de bombardear tudo e todos, os cidadãos Europeus continuarão a morrer em episódios lamentáveis como o desta semana em Paris. O mundo é um lugar menos seguro para se viver.