By: Michaell Lange,
London, 04/10/15 –
Há duas maneiras de resolver a questão Brasileira, e as duas maneiras envolve revolução. Uma delas é violenta, dramática, caótica e sem controle. Ninguém sabe ao certo o que pode acontecer no final. É mais ou menos como foi a revolução Francesa. O povo invade Brasilia e as capitais estaduais e vai todo mundo para a guilhotina. Depois disso, o próximo governo terá medo do povo, e assumirá o poder sabendo que o povo manterá a guilhotina afiada em caso de problemas futuros. Certamente o atrevimento e o desrespeito seriam restaurados. Funcionou na França e provavelmente funcionaria no Brasil, o problema é que o Brasileiro não é Frances. O Brasil pode ser um país violento, mas o Brasileiro é um povo tranquilo, pacato e pacifico, não gosta de guerra, nem de morrer de forma brutal. O Brasileiro é simples, gosta da família, dos amigos, e de aproveitar a vida numa boa. Ninguém quer sair por ai matando todo mundo indiscriminadamente. A guerra não faz parte da natureza do Brasileiro, e eu como Brasileiro, tenho orgulho disso. Definitivamente, essa revolução não combina com o povo Brasileiro.
A outra revolução é silenciosa, comportada, pacífica, mas determinada e devastadora. A revolução silenciosa é a revolução do “Iluminismo”, ou seja, da auto-educação. Iluminismo é possível quando cada cidadão resolve fazer o melhor pelo seu lugar, sua cidade e seu país e pelas pessoas a sua volta, indiferente de quem elas sejam. Os ladrões não irão perceber a chegada dessa revolução, eles serão surpreendidos nas eleições, nas campanhas eleitorais, nos comícios. Ninguém mais vai comprar as promessas, os sorrisos e os favores em troca de apoio, em troca de voto. De repente, os políticos perceberão que o sistema em que estavam acostumados não funciona mais, ou melhor dizendo, não engana mais. A auto-educação é um fenômeno que surge de baixo para cima, e exige um processo de adaptação e exercício constante do indivíduo, que passa a olhar para si mesmo e não mais para os outros. Suas atitudes, suas reações, suas virtudes, hábitos, sentimentos e valores, passam a ser objeto de extremo questionamento do próprio ser. A pessoa passa a prestar atenção e a questionar-se mais e mais sobre tudo a respeito de si mesmo. Nesse processo, aprendemos que a raiva, a violência física e verbal, a tristeza e o stress, são na verdade, perda do controle sobre seu próprio universo, seu corpo e sua mente. Quando você apenas reage a uma situação repentina, você é apenas um ser a mais no mundo controlado por outras forças externas. A propaganda, o noticiário da TV, a revista e os políticos, são seus donos, seus mestres. Eles fazem você comprar algo que não precisa, comer algo sem fome, pensar de uma forma sem saber exatamente porque, reagir agressivamente ou de forma impulsiva em situações adversas. Mas, quando você analisa, pensa e reflete perante uma situação repentina, antes mesmo do seu corpo reagir de forma instintiva, você passa a ter o controle da sua reação. Você passa a ser um universo próprio, sob controle, independente e livre. Você deixa de ser apenas uma bola de futebol que segue a direção do chute. Você passa a ter vida própria, opinião própria. Você pensa por conta própria. Você não repete algo que foi falado de forma impulsiva, você reflete primeiro, depois resolve se fala. A reação do seu corpo passa a seguir as orientações da sua mente e não as orientações de forças externas.
A mais ou menos 10 anos atrás, iniciei meu processo de auto-educação. Passei a questionar absolutamente tudo sobre mim mesmo. Gostos, pensamentos, reações, sentimentos, interesses, vontades, absolutamente tudo. Por que estou sentindo raiva disso? Por que estou estressado? Por que gosto disso? Por que essa palavra me deixou nervoso? Por que gosto dessa idéia? Por que gosto dessa musica, dessa comida, dessa pessoa, desse lugar? O resultado desse processo até aqui é possível descrever em apenas uma palavra; “Liberdade”. Ao questionar meus sentimentos, passei a me perguntar, por que quando alguém tenta me ofender com palavras ou gestos de baixo calão, me sinto ofendido? O que é ofensa? Por que quando alguém nos chama de FDP, por exemplo, reagimos com uma fúria descontrolada? Que tipo de reação química certas palavra causam em nosso cérebro, que produz tamanho derramamento de adrenalina em nosso sangue e faz nosso coração acelerar de forma tão descontrolada? A conclusão que eu cheguei é a de que, durante nosso crescimento, observamos outras pessoas se ofenderem com certas palavras, com certos gestos, e inocentemente, sem perceber, adotamos os mesmo costumes, e passamos a nos ofender com as mesmas palavras, e com os mesmos gestos com que as pessoas a nossa volta se ofendem. É um ciclo vicioso e silencioso que se prolifera sem que as pessoas percebam. Por exemplo, o gesto do “V da vitóriaˆ” que usamos no Brasil de forma tão inocente, é uma grave ofensa no Reino Unido. Por tanto, aprendemos a nos ofender com certas coisas por observação dos costumes que existem a nossa volta e aceitamos sem questionar. Minha pergunta é; Por que? Por que permitimos ser influenciados por forças externas (opiniões alheias, propaganda política ou comercial, fofocas, ofensas etc) que nos fazem fazer coisas que não precisamos ou que não queremos fazer? Por que perdemos o controle sobre nossas reações em algumas situações do dia-a-dia? Minha resposta para estas perguntas é; Consciência! Ter consciência nos deixa mais alerta sobre tudo que acontece a nossa volta, inclusive o que acontece dentro da nossa cabeça. Pense num jogador de futebol durante um jogo clássico. Os jogadores estão o tempo todo em alerta sobre o que esta acontecendo dentro do campo de forma que, ele pode definir a próxima jogada, que pode ser uma ação defensiva ou um ataque. O mesmo vale para nós no nosso dia-a-dia. Quando você esta em alerta, você esta sob-controle.
No momento que você se questiona sobre estas coisas, você passa a perceber que o dedo do meio direcionado a você, é apenas o dedo do meio, e que uma palavra ofensiva, é apenas uma palavra, e que você só se ofende quando você permite ser ofendido ou seja, quando você da o poder da ofensa a uma força externa, caso contrario nada acontecerá. Parece incrível, mas tente fazer um exercício. Da próxima vez que alguém tentar ofender você, tente não se ofender, tente controlar a sua reação. Você nunca mais irá esquecer do momento em que você retomou o controle sobre sua própria mente e sobre seu próprio corpo. Quando isso acontecer, você se ofenderá apenas quando quiser ser ofendido, e sera enganado apenas quando você se deixar enganar, porque você terá o controle da sua mente e do seu corpo. Isso seria o pior pesadelo do governo e de qualquer político ou de qualquer força externa que queira controlar você. O dia em que você retomar o controle do seu corpo e da sua mente, ninguém mais convencerá você a gostar de algo que você não gosta, ou seguir algo que você não concorda. Você continuara amando o futebol, por exemplo, mas não sentirá necessidade de seguir um time, muito menos brigar com outras pessoas apenas porque eles torcem para outro time. Isso tudo perderá o sentido porque você terá o controle da sua mente. Você vai gostar ainda mais de futebol, porque independente de quem perder o jogo, você não ira sofrer a derrota, porque você não perdeu nada. O mesmo servirá para partidos políticos e seus políticos. Você perceberá que não faz sentido algum se juntar a um grupo de Brasileiros para combater outro grupo de Brasileiros que tem pensamentos diferentes dos seus. Você perceberá que se todos se unirem num único propósito, como o bem estar de todos os Brasileiros, e não apenas o bem estar daqueles que concordam com você, a sua cidade, o seu estado e o seu país, se tornará um lugar melhor para se viver.
Essa foi a revolução que devolveu o controle da minha própria entidade, do meu próprio ser. Hoje, 10 anos depois do inicio da minha própria revolução do pensar, não simpatizo com nenhum determinado partido político, não sigo ideologia política, não sigo nenhum time de futebol, mas ainda gosto de ver o Brasil vencer. Por outro lado, questiono meu patriotismo e ja enterrei meu nacionalismo. Fico me perguntando, para que serve um hino nacional? Para que serve uma bandeira? Será que serve para me diferenciar das outras pessoas? Se for, então são símbolos que não tem valor para mim a não ser que sejam usados no esporte para diferenciar os times que competem entre si, nesse caso eu concordaria. Mas, usar de bandeiras e hinos para promover diferenças entre os seres humanos? para nos separar em diferentes grupos? Eu rejeito esse sistema! Uma criança Brasileira, não vale mais do que uma criança Africana, Haitiana ou Americana. Quando dividimos os seres humanos em diferentes grupos, damos status a cada um deles. Uns passam a valer mais que os outros, mas eu rejeito esse sistema. Eu rejeito os direitos das minorias. Não acredito nos direitos dos gays, nos direitos dos negros, nos direitos das mulheres ou nos direitos dos deficientes. Isso tudo são formas de dividir a humanidade em pequenos grupos. É uma estratégia política muito eficaz de dividir e controlar. Pois, eu acredito apenas nos direitos humanos. Quando passamos a ver todas as pessoas como seres humanos, todas as vidas passam a ter o mesmo valor, todo sofrimento, passa a ser o meu sofrimento. Toda conquista passa a ser a nossa conquista. E essa revolução na nossa forma de pensar pode libertar toda a humanidade de qualquer forma de tirania. Quando controlamos nossas mentes, as influências e as forças externas perdem o poder sobre as pessoas, e a propaganda política, deixa de enganar o povo. O futebol e o esporte, deixam de nos separar, e a humanidade passa a ter o mesmo valor.