By: Michaell Lange.
London, 07/09/15 –
De repente, o sentimento em favor dos refugiados tomou conta da Europa. A vontade de ajudar pessoas em necessidade parece ter invadido a sensibilidade dos Europeus e do mundo. Acordou uma sociedade talvez, anestesiada pela crise econômica que tanto oprimiu o simples humano que esqueceu da verdade, o quanto ainda tinha a perder alem de dinheiro. De repente eles viram que havia milhares de pessoas a sua volta. Um sentimento agigantado acordou o ser humano moribundo e cego. Incapaz de ver seu próprio irmão perder as forças e desistir de caminhar ao seu lado. De repente, a Europa acordou diferente, o mundo acordou diferente. O dia amanheceu mais limpo, mais leve, mais justo, mais humano. As crianças acordaram sorrindo, brincando, se divertindo. Pareciam felizes como nunca antes haviam estado. Uma onda de alegria tomava conta das rua, dos becos. Nos cantos escuros onde se escondiam o medo, a vergonha, a tristeza, agora havia luz, conforto, coragem. As pessoas vinham de todos os lados para ajudar. Não queriam nada em troca, apenas ajudar a si mesmo, salvar a si próprio. Homens, mulheres e crianças, trouxeram mais do que comida, agua e brinquedos. Eles trouxeram um sorriso no rosto e um coração caloroso, uma mão amiga. Trouxeram a vida de volta para os outros e para eles próprios.
O Sol nasceu numa manhã diferente naquele dia. De repente, a religião não fez diferença. A cor da pele, não fez diferença. A classe social, não fez diferença. A lingua, não fez diferença. A nacionalidade, não fez diferença. Éramos ali, naquele exato momento, apenas humanos na sua forma mais pura, filhos do mesmo ser que nos deu a mesma herança genética. descobrimos Amigos, irmãos, velhos conhecidos que a muito tempo não se encontravam porque as barreiras nos impedia de ver, de ouvir, de sentir e de ser o que realmente éramos no inicio e que, havíamos esquecido de continuar sendo no futuro.
De repente, naquele dia alguém gritou por socorro, mas como na maioria das vezes, quase ninguém deu ouvidos. Afinal de contas não tinhamos tempo para mais nada. A voz que pedia socorro não era alta o suficiente para nos acordar do sono profundo. Tudo estava abafado pela agua salgada. O mar estava calmo e o céu estrelado, uma visão linda e pacifica mas, ao seu lado, só havia desespero, solidão e tristeza. Depois só restou o silêncio. Aquele silencio era tão ensurdecedor que foi ouvido em todos os cantos da terra e até do universo infinito e escuro. Como se fosse um susto no meio do sono profundo, as pessoas acordaram assustadas. Todos respiraram profundamente enquanto o coração batia acelerado. Não houve uma única pessoa capaz de escapar do silencio daquela imagem. Foi o silencio mais alto jamais ouvido antes por aquelas pessoas. Ali estava aquele menino, sozinho na areia da praia. Todo mundo virou para ver quem era. Ao olharem mais de perto, perceberam que aquele menino era alguém conhecido, mas quem? Alguém respondeu baixinho, aquele menino ali na areia, era você! A dor era tão forte que era possível sentir a contração oprimida e involuntária de um coração que havia parado de bater. As pessoas queriam, de alguma forma, entrar naquela imagem e resgatar a si próprio, mas era tarde demais. Havíamos, todos, perdido a vida ali naquela praia. Demorou para percebermos que não era apenas um pesadelo vivido por alguém desconhecido, num lugar desconhecido, bem distante da nossa casa. Não. Ali naquela imagem na areia da praia, estava a imagem de nossas próprias vidas, abandonada em troca da futilidade de uma vida que escolhemos viver sozinhos. O que tivemos que aprender na marra, foi que num planeta flutuante num universo infinito, é impossível viver sozinho. Você pode fechar os olhos com força, mas no momento em que você abri-los novamente, estaremos todos la, representados naquela imagem na areia da praia.
A foto do menino sem vida na praia, é uma representação verdadeira e sincera das nossas vidas. O sono profundo do menino, acordou a humanidade, mas muitos continuam dormindo, indiferentes ao que acontece a sua volta. Aos que acordaram e viram suas próprias vidas no corpo sem vida daquele menino, tem o compromisso e a responsabilidade de não deixar que o sono profundo da inconsciência humana, volte a vitimar aqueles que ainda nem sabem direito o que é a vida, e ja estão tendo que lidar com a morte. Talvez, a verdadeira salvação esteja na capacidade do ser, de se desprender do mundo material e conseguir ver o mundo despido de suas impurezas materiais e inúteis. Ajudar outra pessoa em necessidade pode ser o primeiro passo para acordarmos do sono profundo da inconsciência onde muitos caminham de olhos abertos mas, continuam incapazes de enxergar além do valor material do objeto que esta a sua frente. O amor e a vida são os maiores bens do ser humano e nenhum destes dois pode ser comercializado ou guardado como se fosse um produto. Mesmo assim, muitos de nós preferem ignorar estas evidencias irrefutáveis da nossa existência, para fazer parte de um mundo que tenta fazer da vida e do amor, moeda de troca. O menino Aylan Kurdi pode ter sido a ultima chance do ser humano acordar e ver o que precisa ser visto. Assim como um outro menino que viveu a mais de dois mil anos atras, o menino Aylan, pode ter dado a sua vida por nós, e a impressão que eu tenho é a de que, não estamos aqui para sermos salvos, mas sim para salvarmos uns aos outros…