By: Michaell Lange.
London, 27/07/15,
Para a história, a escravidão foi abolida a séculos atras. Segundo o que aprendemos nas escolas em todo o mundo, o Brasil foi o ultimo país a abolir a escravidão em 1888. Mas, evidências de um mundo moderno indicam que a escravidão na verdade, nunca acabou, mas se modificou para se adequar as novas Leis que proibiam principalmente, o transporte de negros oriundos da Africa para trabalhos forçados na America latina e America do Norte. A Lei da abolição basicamente proibiu que humanos, sobretudo negros, fossem transformados em propriedade privada. Antes da Lei britânica da abolição de 1833, assinada pelo parlamento, o comercio de escravos já havia sido proibido em 1807, mas essa Lei apenas tornou a vida dos escravos ainda mais miserável. Por vezes, navios negreiros despejavam toda a sua carga humana no mar, que incluía mulheres e crianças, para evitar multas aplicadas por navios do Império Britânico que patrulhavam o Oceano Atlântico. A Lei da abolição de 1833 tinha como objetivo, acabar com essa atividade brutal de uma vez por todas. Mas não foi bem isso que aconteceu. Novos estudos da UCL – University College London – feito nos arquivos de documentos históricos da National Archive – Arquivos Nacionais – revelaram novos detalhes sobre o período da abolição esquecidos e ignorado pela história e revelam um paralelo no mínimo bizarro com a realidade dos nossos dias atuais.
Segundo a UCL, depois da abolição em 1833, o movimento pro-escravista da época, liderou uma ação contra o governo Britânico para pedir o pagamento de reparações pelos prejuízos causados pela abolição. Documentos revelaram que o governo Britânico havia pago até 1834, um total aproximado de R$80 bilhões de Reais (£17 bilhões de Libras), o equivalente a 40% de todo o orçamento do Império Britânico daquele ano, em indenizações para os donos de escravos. Por outro lado, absolutamente nenhuma indenização foi paga para as verdadeiras vitimas de um dos períodos mais sombrios da história humana. Segundo os historiadores da UCL, o valor indenizatório foi o maior da história Britânica e ironicamente pode ser comparado apenas com a ajuda financeira para salvar os bancos Britânicos da falência em 2008. Os estudos também revelaram outras tendências. Após a abolição, muitas famílias Britânicas que eram donas de quase 50% de todos os escravos da época, passaram a re-escrever suas histórias com o objetivo de esconder o envolvimento com o período escravista. Muitas famílias passaram a ser conhecidas como comerciantes, importadores, e agricultores. Também deu-se mais importância a questão da abolição como foco do período escravista. A história passou a focar mais na questão da abolição como uma conquista Britânica ao invés de expor os grandes benefícios que o país exercitou nos 200 anos do seu envolvimento nas atividades escravistas. Estima-se que grande parte de toda a infra-estrutura Britânica atual, incluindo empresas ferroviárias, bancos e instituições como a The British Civil Society, The British Museum, e a National Gallery, foram financiadas com dinheiro das atividades escravistas.
Hoje, quase 200 anos após a abolição da escravidão, a atividade é crime em todo o mundo. Apesar disso, a instituição Britânica, Amnesty International, estima que existam pelo menos 35 milhões de pessoas vivendo em situação escrava no mundo, um numero muito maior do que no período em que atividade era legal. No Brasil, a estimativa é de que 250 mil pessoas continuam vivendo em situação escrava. Empresas multinacionais e famosas como a Nike, Lacoste, Timberland, Zara, Wal-Mart entre outras milhares de grandes e pequenas empresas e instituições, usam ou usaram, de uma forma ou de outra, mão de obra escrava. É praticamente impossível que você não tenha consumido um ou mais produtos nos últimos 12 meses que não tenha passado pelas mãos de um trabalhador escravo.
A utilização da mão de obra escrava continua sendo vital para o desenvolvimento das grandes economias do mudo assim como fora até 1833. As grandes mudanças causadas pelas leis abolicionistas é que hoje em dia por exemplo, não ha mais a necessidade do transporte em massa de escravos de um continente para outro. Hoje, as empresas vão até os escravos. Além disso, as grandes corporações terceirizam a contratação de trabalhadores livrando-se assim das responsabilidades legais como o pagamento de salário mínimo e indenizações. Poderíamos também analisarmos a situação de milhões de outros trabalhadores ao redor do mundo que não são classificados como escravos por não serem forçados ao trabalho, e viverem em suas próprias casas, de também fazerem parte de uma classificação semi-escravista. Afinal de contas, como classificar milhares de trabalhadores com carga horária superior a 60 horas semanais cuja a renda é menor que os custos básicos de sobrevivência? Como classificar os milhares de trabalhadores que precisam usar o cartão de credito e limites das contas bancaria para pagar por necessidades básicas como luz, agua, comida e gas?
Podemos, com certa facilidade, concluir que além das estimativas da Amnesty International sobre a quantidade de escravos no século 21, há também um numero inestimável de trabalhadores vivendo em condições de semi-escravidão além de outros milhões sobrevivendo na total dependência de instituições financeiras . Se somarmos a esse grupo os mais de 1 bilhão de pessoas que passam fome no mundo hoje, não fica difícil perceber porque 1% da população mundial tem o controle dos outros 99% das riquezas do planeta. As similaridades com o antigo regime escravista pode não se equivaler completamente, na brutalidade física mas, certamente se assemelha na dependência e no aprisionamento de pessoas que não consegue se livrar das dividas cumulatívas por consequência dos baixos salários, juros altos e o alto custo de vida. Os governos em quase todo o mundo preferem não ver essa realidade e demonstram aceitar a necessidade destas praticas abomináveis e da existência de uma sub-classe social, pelo bem econômico do país. Assim como foi no passado, nossas democracias não representam as pessoas das ruas, mas os interesses corporativos de um pequeno grupo. Os governos e suas instituições foram criadas para atender as demandas do povo. Se os governos e suas instituições não estão cumprindo nem os seu papel mais básico, não ha razão então para continuarmos aceitando a sua existência. A escravidão parece não ter sido abolida como nos ensinaram na escola, parece apenas ter mudado de roupa.