Experiência de Hospital: Quem Nunca Teve?

By: Michaell Lange.

London, 16/07/15

Em visita ao hospital recentemente para fazer uma endoscopia de rotina, tive mais uma daquelas experiências que me fazem pensar nas diferenças na vida de quem vive em países desenvolvidos e quem sobrevive em países em desenvolvimento como o Brasil. Como o drama humano pode ser vivido de formas diferentes dependendo do lugar em que vivemos mesmo que em termos humanos, os dramas sejam os mesmos. Cheguei a conclusão já a caminho de casa que, o hospital é uma excelente referência para se medir o grau e o nível de desenvolvimento de uma cidade, um estado ou país. No hospital, encontra-se todos os sentimentos vivenciados pelo ser-humano concentrados em um único local. Ali esta a contradição entre a vida e a morte. A gentileza, o  amor, o carinho entre estranhos e conhecidos, o medo, a alegria, a perda, a vitória, o nascimento ou, renascimento, estão presentes e dividem o mesmo espaço. A estrutura e as pessoas responsáveis em administrar estes locais, podem intensificar ou aliviar todas as tensões do dia-a-dia de um lugar que quase ninguém gosta de visitar, mas todo mundo deseja chegar o mais rápido possível quando precisamos de socorro e amparo.

Sentado na sala de espera aguardando a minha vez de fazer o procedimento, fiquei observando discretamente todos que estavam ali aguardando ser chamado. Enquanto alguns assistiam o campeonato de tênis de Wimbledon ao vivo na TV, outros não conseguiam disfarçar a ansiedade. Uma mulher segurava firmemente a mão do homem ao seu lado e acariciava seu ombro com a outra mão, enquanto o homem balançava os pés inquietamente. Uma outra pessoa folheava uma revista de trás para frente e de frente para trás sem ler nada. Fiquei ali pensando nos problemas que estas pessoas podem estar enfrentando ou irão enfrentar, incluindo eu mesmo. Realidades tão diferentes e ao mesmo tempo tão parecidas. O drama da vida me fascina. Sinto vontade de ajudar, de conversar, de confortar de alguma forma, mas muitas vezes me impeço de faze-lo, talvez por medo.

Ali e aqui, mesmo que temporariamente, todos os sonhos, os planos e os desejos são suspensos. O milagre da vida parece recuar e dividir o mesmo espaço do coração de forma a ficar apertado. Os sonhos não realizados parecem ter o dobro do peso. As palavras que gostaríamos de dizer e nunca foram ditas parecem arder na garganta. Os problemas com as pessoas que amamos e que nos recusamos a resolver por orgulho, agora parecem urgentes. O medo de não estar aqui para sempre, parece o pior dos pesadelos mesmo com a certeza de que, de uma forma ou de outra, ninguém estará aqui para sempre.

Estas situações podem ser observados em qualquer hospital do mundo. A diferença é que aqui, tudo parece acontecer sob-controle. A ausência do caos torna as dificuldades em algo mais maleável, mais suportável e menos injusto, tanto para os pacientes quanto para os profissionais da saúde. A experiência de hospitais Brasileiros e Britânicos me deram uma certa base para falar dos dois casos. Aqui (no Reino Unido), todo mundo parece caminhar mais devagar, com mais calma. Os médicos sorriem, e as enfermeiras fazem seu papel com a excelência de quem tem todo o suporte necessário para cumprirem suas obrigações de forma correta e humana. Observo tudo e concluo com facilidade que o caos não esta aqui e que diferença isso faz no resultado final de qualquer tratamento, incrível!

Duas enfermeiras me levaram até uma sala 10 minutos antes da minha endoscopia e me explicaram com riqueza de detalhes tudo sobre o procedimento, quem estaria na sala, o tempo que levaria, o que eu sentiria, o que eu deveria fazer, o que elas estariam fazendo e o que aconteceria após o termino do procedimento. Logo a seguir o médico responsável passou mais 5 minutos explicando o que ele faria, além de me dar a opção do uso de anestésico que depois dos esclarecimentos preferi recusar. Tudo feito de forma ordeira e sem pressa, como se eu fosse o único a estar fazendo o exame naquele dia.

Mesmo já tendo feito este exame antes, me sentia inseguro, mas a atuação da equipe médica junto com o a estrutura a minha volta me deram toda a confiança que eu precisava. Depois que tudo terminou, fui levado para uma sala de recuperação onde eu ficaria por 15 minutos até que o médico terminasse o relatório no qual enviaria uma cópia para o meu posto de saúde e outra cópia ficaria comigo. Alguns minutos se passaram até que a enfermeira veio me oferecer um café e uns biscoitos aos quais me propus a me servir eu mesmo já que não estava sob efeito de anestésico, mas ela fez questão de me servir. Fiquei pensando em que outro lugar do mundo uma enfermeira teria tempo pra fazer um café para um paciente que não esta internado nem impossibilitado de fazer seu próprio café? Agradeci e fiquei rindo sozinho. Em nenhum momento se falou em dinheiro ou pagamento porque aqui no Reino Unido a saúde é gratuita, paga apenas pela arrecadação de impostos, claro. Na saída, o porteiro apertou minha mão me desejando boa sorte e fui embora pensando como tudo isso poderia ser no Brasil. Os dramas que vivemos podem até ser os mesmos, mas é incrível como alguns detalhes podem fazer toda a diferença.

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