Governos – Multinacionais – Entidades Esportivas: A Triangulação Perfeita da Corrupção

Por: Michaell Lange.

London, 08/05/15

O escândalo da FIFA parece ironicamente, surpreender até os próprios envolvidos nos esquemas de corrupção. Parecem com nossos governantes que nunca sabem de nada mesmo quando o crime ocorre dentro do próprio gabinete onde trabalham. A arrogância, o descaso e a ausência de medo que estes deuses do poder apresentam contra as mais duras acusações e a eminência de serem presos por crimes de corrupção é sentimento comum da categoria, ali ninguém tem medo. Tanto Lula, quanto FHC, Ricardo Teixeira, e mais recentemente Sepp Blatter entre outros mundialmente conhecidos, reagem de forma uniforme a qualquer crise de honestidade. Ninguém sabe de nada, nunca ouviram falar de problemas e a calma com que enfrentam os escândalos é a maior evidencia da impunidade, afinal de contas, todo mundo ganha nesse mundo sujo e carregado de dinheiro publico.

Esta semana o mundo ficou sabendo do que todo mundo de alguma forma já suspeitava, a grande maioria das eleições da FIFA que definiram os países sede das copas do mundo, se não todas, foram ganhas na mesa da propina e não nos votos. A Copa do Mundo da Alemanha foi comprada com vendas de armas para países do Oriente Médio em troca de votos. Na Africa do Sul a vencedora foi na verdade o Marrocos, mas os resultados foram modificados. A Copa do Brasil se for investigada a fundo sobrarão poucos inocentes e faltara cadeia para tanta gente corrupta. A FIFA fez a festa no Brasil. A Copa do mundo de 2014 pode ter sido a maior farra com dinheiro publico na história da entidade e nem isso, se comprovado, me surpreenderia. O envolvimento do FBI em conjunto com a Interpol e a policia Suíça nas investigações da FIFA tem tirado o sono de muitos dirigentes do futebol ao redor do mundo. Mas não são só eles que devem estar passando as noites em claro. No Brasil, Ricardo Teixeira teria “fugido” para Miami depois que a Policia Federal encontrou milhões de Dólares em depósitos na conta da sua filha que tinha apenas 11 anos de idade na época. Se Miami e a Suíça deixarem de ser esconderijos seguros para os criminosos do colarinho branco, que lesam o povo em bilhões de Dólares em transações corruptas, faltará espaço em Mônaco para abrigar tanto corrupto.

Não foi nenhuma coincidência que a FIFA foi criada e registrada na Suíça como uma instituição sem fins lucrativos, mesmo que seja de conhecimento geral que o lucro liquido da FIFA na copa de 2014 tenha ficado em torno de 3 bilhões de Dólares. E tudo isso já havia sido anunciado antes mesmo do inicio das obras que desalojou comunidades inteiras para dar lugar a estacionamentos de estádios. O Deputado Federal Romário, não economizou palavras para descrever o escândalo e os crimes cometidos pela FIFA e apoiados tanto pela CBF quanto pelo Governo Federal. No final sobrou os resultados já esperados e anunciados pelo Deputado. Os lucros das grandes empresas e instituições envolvidas no evento se concretizaram normalmente. Já a infra-estrutura e o desenvolvimento sócio-econômico do Brasil vai ter que ficar para a próxima. Com exceção dos estádios, nenhuma grande rodovia foi inaugurada, nenhum aeroporto, ou porto marítimo foi construído, muito menos escolas e hospitais. Segundo Tony Benn, ex-membro do parlamento Britânico, “uma nação educada, saudável e confiante é muito mais difícil de governar”. Por isso, segundo Tony, muitos governos incluindo provavelmente, todos no Brasil, não estão interessados em desenvolver uma nação educada, saudável e confiante, por medo que eles saiam fora do controle.

Existe um interesse comum entre grandes multinacionais que patrocinam grande eventos mundiais, os governos e as entidades esportivas. Os potes de verbas publicas quase infinitas, oferecem a oportunidade de grandes lucros com o mínimo de capital privado investido possível. O único lado dessa triangulação entre Governos, Multinacionais e Entidades, que pode ter prejuízo, são os governos, e claramente é sempre os governos que arcam com os maiores custos e em raras ocasiões dividem os benefícios. Isso não acontece por acaso, isso acontece porque o objetivo é criar lucro com investimentos de verbas publicas ou seja, investimentos públicos que geram lucros privados. A FIFA pode estar no topo dos noticiários de hoje  mas o que dizer por exemplo da Federação Internacional de Automobilismo (FIA) e do Comitê Olímpico Internacional (COI)? No GP de Mônaco de 1984, Senna surpreendia todo mundo na chuva e certamente conseguiria sua primeira vitória na F1, mas Jean-Marie Balestre, o então chefão da entidade maior, terminou a corrida mais cedo para que Prost pudesse vencer a corrida? Ayrton Senna brigou a vida inteira contra a corrupção dentro a F1 que hoje é comandada por ninguém mais que Bernie Eccleston que foi acusado em 2014 pela justiça da Alemanha de pagar $35 milhões de Dólares em propina a um banqueiro Alemão para que beneficiasse a empresa de um amigo nos contratos milionários da F1. No COI o histórico de corrupção é tão grande quanto o da FIFA. Em 2004 o programa da BBC, Panorama denunciava a “compra dos jogos Olímpicos” e a falta de transparência da entidade que tem profissões vitalícias e presidentes no cargo a 20 anos.

A relação entre empresas, entidades e governos é sem duvida uma triangulação perfeita que gera muito lucro para as multinacionais como a Coca-Cola, Nike, Adidas, Shell, BP e Vodafone, e entidades esportivas como a FIA e FIFA e quase sempre termina em prejuízos para os governos como o Brasil e Africa do Sul Grécia, e Espanha. A idéia de que apenas empresas estatais são vitimas de corrupção parece ser equivocada frente aos seguidos escândalos dos Bancos como o HSBC, Barclays e RBS, além de empresas como a Camargo Correia e Odebrecht que recentemente foram citadas no escândalo de corrupção da Petrobras. O ciclo da corrupção se fecha de forma perfeita quando há o envolvimento entre empresas, governos e entidades. São nestas ocasiões que o contribuinte é mais lesado.

Infelizmente, o publico tem grande culpa nessa história toda. Mesmo com pilhas de evidencias, continuamos votando nos mesmos corruptos, comprando os produtos das mesmas entidades e empresas acusadas de nos roubarem. Foram poucas as pessoas que deixaram de comprar produtos da Ferrari (bonés, camisetas, brinquedos etc) depois que a equipe deu aquela ordem para o Rubens Barriccelo deixar o Alemão ganhar, mas exatamente a falta de ação do publico nestas horas que permite a perpetuação destas praticas. A justiça, seja no Brasil ou no resto do mundo já demonstrou ao longo de décadas que é incapaz de prender os maiores responsáveis pelos escândalos de corrupção envolvendo verbas publicas. Mas ninguém pode obrigar o consumidor de comprar um produto, assistir TV ou usar um determinado combustível. Todo consumidor tem poder de escolha e quanto mais esse poder for exercitado maior sera a pressão sobre os governos, entidades e empresas em suas praticas obscuras e fraudulentas. Cabe ao consumidor forçar a mudança.

2 thoughts on “Governos – Multinacionais – Entidades Esportivas: A Triangulação Perfeita da Corrupção

  1. Michael, a gente observa a escalada do poder econômico e imagina um churrasco de final de semana no sitio de alguém como um dos Odebrecht, onde comparecem Ricardo Teixeira, Gilmar Mendes, Romero Jucá, porque não Joseph Blatter e o Daniel Dantas. Num único encontro vc tem os senhores mais eminentes de vários feudos e instituições que se associam, trocam favores, enriquecem em quanto eu e vc entramos com o dinheiro que financia o corporativismo. A certeza da impunidade começa no gabinete dos deputados e senadores, perpetuados no poder não pelo seu oi o meu voto, mas por arranjos matemáticos, repito, que reparte os votos dados a apenas 6% dos eleitos com todos os que la se encontram agora. Do gabinete do deputado, passa-se ao do juiz, q precisa de verba para comprar ternos em Miami. Essa gente vive numa outra realidade, numa torre de marfim a cada dia mais alta e mais isolada daqueles que pagam seus impostos. Gostaria de ter uma ideia menos catastrófica para solucionar esse problema senão a de pegar nas armas.

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