Poder, Corrupção e a Impunidade no Sistema Financeiro Mundial

by: Michaell Lange.

London, 25/05/15

Semana passada cinco dos maiores bancos do planeta foram condenados pela justiça Americana a pagar uma multa record que totalizam mais de R$16 bilhões de Reais. Quatro dos bancos, entre eles, Barclays, Citigroup e RBS – Royal Bank of Scotland –  foram condenados por manipulação das taxas de cambio no mercado mundial. O quinto banco, o UBS, foi condenado por manipular juros. Segundo a justiça Americana, a manipulação dos mercados internacionais teria lesado milhões de investidores e consumidores ao redor do mundo além de ter interferido nos preços de produtos e serviços.

Estes crimes teriam ocorrido no auge da crise financeira mundial entre 2008 e 2014 que também teria sido provocada pela má conduta de bancos ao redor do mundo sobretudo nos EUA. A investigação também descobriu que alguns dos bancos envolvidos ameaçavam outros bancos com frases como “se você interferir no Cartel, durma com o olho aberto”. Outro banco teria dito; “se você não trapacear você não esta se esforçando o suficiente”.

Nenhuma dessas praticas surpreende, considerando o histórico e a cultura de corrupção, fraudes e má conduta promovidas por bancos em todos os cantos do planeta. O mais escandaloso é que todas estas praticas são devidamente apoiadas, ou no mínimo acobertadas pela maioria dos governos. Mesmo no caso dos EUA que acaba de condenar estes bancos por manipulação do mercado, a justiça se vê impossibilitada de prender ou multar de forma eficiente os responsáveis por estas políticas financeiras . Muitos especialistas dizem que a multa aplicada aos bancos, mesmo sendo um record, representam um pingo num vasto oceano comparado com valor envolvido nas transações comerciais internacionais. O Banco Barclays por exemplo, que recebeu a maior multa entre todos os condenados terá que pagar $2.4 bilhões de Dólares a justiça Americana. Mesmo parecendo um valor expressivo, se comparado com os $100 trilhões de Dólares em movimentações internacionais todos os anos, a multa aplicada parece mesmo um pingo d’agua no oceano. Além disso, nenhum presidente ou diretor dos bancos condenados deve ir para cadeia o que faz com que a condenação destes bancos se pareça mais com uma “taxinha” cobrada pelos governos, para garantir a perpetuação de suas campanhas fraudulentas e corruptas, ao invés de duras medidas que possam mudar o sistema e realmente punir de forma exemplar todos os envolvidos.

Um paralelo interessante pode ser feito com o recente roubo a uma joalheria no centro de Londres onde um grupo de ladrões roubaram um valor estimado em R$910 milhões de Reais em jóias preciosas. No caso do roubo a joalheria, 7 bandidos foram presos pouco mais de duas semanas após o roubo e parte do valor roubado já foi recuperado. Já no no roubo bilionário promovido pelos bancos, uma multa irrisória, se comparado com o valor envolvido no caso, foi suficiente para livrar a péle dos principais envolvidos que também são re-reincidentes nestas praticas criminosas. As multas aplicadas aos bancos condenados na semana passada são tão irrelevantes que as ações do Banco Barclays, que pagou a maior multa entre todos os condenados, subiram 3.4% logo após a condenação. Já as ações do banco RBS subiram 1.8%, uma clara mensagem de que o mercado se sentiu aliviado com o valor da multa mesmo sendo um valor record.

Um outro paralelo interessante que pode ser traçado aqui é uma relação entre empresas privadas e estatais. No Brasil por exemplo, a Petrobras passa por um dos maiores escândalos de corrupção da sua história, e essa tem sido um dos motivos pelos quais alguns partidos politicos acreditam que a empresa deve ser privatizada. Porém, não se questiona o fato de outras empresas diretamente envolvidas no escândalo da Petrobras, como a Camargo Correia e a Odebrecht são também empresas privadas ou seja, a questão da empresa ser privada ou estatal parece não estar diretamente ligada a praticas de corrupção e má conduta.

A conclusão é de que os maiores prejudicados em todos estes crimes continua sendo o pequeno empreendedor e os consumidores da base econômica ou seja, você e eu, que não tem escolha e somos obrigados a continuar usando os serviços de bancos que claramente abusam de suas condutas com o aval da justiça. É praticamente impossível conseguir um emprego hoje sem que o candidato tenha uma conta bancária, assim como é impossível para qualquer pequeno empresário fazer negócios sem o envolvimento de um banco. Não há alternativas, e não há alternativas por um motivo muito simples. Nenhum banco conseguiria sobreviver com suas praticas corruptas caso o consumidor tivesse qualquer outra alternativa de negócio. Vivemos hoje um totalitarismo comercial e financeiro imposto por bancos que roubam com a certeza da impunidade e a certeza de que suas vitimas não tem para onde correr ou buscar ajuda. E o fato de que os bilhões de Dólares em prejuízos promovido pelos bancos é diluído entre outros milhões de pequenos consumidores e empresários, faz com que a justiça sinta-se a vontade para não coibir de forma eficaz tais praticas. Enquanto não vermos quadros inteiros de diretores receberem duras penas de prisão, e bancos serem extintos por conta de praticas criminosas, o consumidor seguira pagando uma conta que não apenas não lhe pertence, mas que também o condena a continuar sendo refém de um sistema que oferece quase 0% de benefícios e 100% de impunidade a suas praticas criminosas. Diz um ditado conhecido nas ruas de Londres que “se você roubar um banco, você pega 25 anos de prisão, mas se um banco roubar você, o quadro de diretores recebe bonus”. Certamente, pelo grau de impunidade exercida por estes gigantes financeiros, este ditado nunca pareceu ser tão verdadeiro quanto agora.

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