As Metas do Milênio da ONU e o Silêncio Ensurdecedor Pós-Prazo

Por: Michaell Lange.

Londres, 18/02/15

Em 2000 lideres de todo o mundo se encontraram na sede mundial das Nações Unidas para lançar as prioridades mundiais de desenvolvimento. Oito metas foram lançadas e foram chamadas de UNMDG – United Nations Millenium Development Goals ou Metas de desenvolvimento do milênio das Nações Unidas. O prazo para as oito metas era 2015 onde todos os objetivos seriam avaliados e publicados. Todos os países se comprometeram em fazer todos os esforços para cumprir as metas no prazo máximo de 2015. As oito metas definidas em 2000 são:

1 – Erradicação da fome e extrema pobreza no mundo.

2 – Atingir o ensino básico universal.

3 – promover a igualdade de gênero e autonomia das mulheres.

4 – Reduzir a mortalidade infantil.

5 – Melhorar a saúde materna.

6 – Combater o HIV a malaria e outras doenças.

7 – Garantir a sustentabilidade ambiental.

8 – Estabelecer uma parceria mundial para o desenvolvimento.

Na ultima avaliação das metas das Nações Unidas feita em 2013, a ONU apresentou avanços na busca pelos objetivos das metas, mas a avaliação foi feita considerando os números mundiais que de forma geral apresenta números positivos. Porem, se fizermos uma avaliação regional, desconsiderando os números apresentados pelos países desenvolvidos é possível observar que muitos dos objetivos na verdade pioraram de 2000 para cá. Estamos seguindo a passos largos para o final do segundo mês de 2015 e ao invés das comemorações das metas da ONU, as principais noticias que dominam a mídia mundial são os atos brutais cometidos por grupos extremistas religiosos como o Boko Haran na Nigéria e o Estado Islâmico no Iraque, Síria e Líbia, além dos conflitos na Ukrania e atentados terroristas em Paris e Copenhague.

Falhamos em estabelecer uma parceria mundial para o desenvolvimento, e a comunidade mundial talvez, não tenha visto uma situação tão delicada quanto a que estamos vivendo no momento. Os ataques terroristas as torres gêmeas em Nova York seguida pela guerra contra o terror levou a comunidade mundial a se afastar cada vez mais de qualquer possibilidade de estabelecer um acordo mundial para o desenvolvimento. Muito pelo contrario, a invasão ilegal do Iraque em 2003 pelos EUA apoiado pelo Reino Unido deixou mais de 600 mil mortos, milhares de desalojados e um país em frangalhos. Os conflitos assolaram o Oriente-Medio onde milhares de inocentes morreram no Afeganistão, Líbia, Síria, e Egito. Durante toda a primeira década deste milênio houve pouco ou nenhum avanço no desenvolvimento dos países Africanos. Um outro fator importante, ignorado pelas metas da ONU é crescimento da escravidão no mundo. Segundo o grupo anti-escravidão Walk-Free, existem hoje quase 36 milhões de escravos no mundo sendo que a India tem o maior numero de escravos e a Mauritanea tem o maior percentual.

Na questão ambiental os avanços foram tímidos e muito abaixo do necessário para evitar um caminho catastrófico e sem volta dizem os cientistas. As camadas de gelo na Antártica e no Ártico continuam a descongelar a níveis recordes. Em 2010 navíos de carga usaram pela primeira vez a rota pelo mar do Norte (antes congelado) para o Japão economizando duas semanas de viagem. O desenvolvimento de energia sustentável não decolou e o uso de combustível fóssil continua sendo a principal fonte de energia junto com a energia nuclear e o carvão. O desastre do petróleo no golfo do México e na usina nuclear de Fukushima no Japão deixaram um rastro de destruição e um legado dramático e vergonhoso na busca da sustentabilidade. Ainda nessa década a China passou a ser o maior poluidor do mundo e no Brasil a Floresta Amazônica desaparece sob os olhos incrédulos da humanidade. Segundo dados da Imazon, uma ONG Brasileira, o desflorestamento da Amazonia subiu 29% no ano passado depois de 8 anos de números positivos no combate ao desflorestamento. Ainda segundo a Imazon, uma area superior a 6 vezes o tamanho de Manhattan ou seja, 402 km2 de floresta foram derrubadas apenas em Setembro de 2014.

No combate a doenças como a AIDS e a malaria, houve progresso como por exemplo no Brasil onde a quebra de patentes dos remédios para o tratamento da AIDS beneficiaram milhares de pacientes. Mas na Africa, 10% da população dos países do sub-Saara estão infectados pelo virus HIV. Além disso, 69% da população mundial contaminada pelo HIV vivem na Africa. Em 2014 um dos maiores surtos de Ebola deixou milhares de mortos e outros milhares de órfãos. O surto do Ebola ainda não foi controlado e nenhuma vacina foi desenvolvida até o momento. No inicio de 2015 um estudo da organização Britânica de cancer, a Cancer research, disse que 1 em cada 2 Britânicos ira desenvolver cancer, o índice anterior era de 1 a cada 3 pessoas.

As mulheres continuam sendo tratadas de forma desigual. Estima-se que as mulheres recebem em media 15% menos que os homens trabalhando no mesmo serviço. Segundo o jornal Britânico The Guardian, 30% das mulheres acima de 16 anos já experiênciaram algum tipo de violência domestica. Estima-se que apenas no Reino Unido mais de 1 milhão de mulheres sofreram violência domestica em 2013. Em países como Arabia Saudita as mulheres continuam sendo condenadas ao apedrejamento e decapitação por atos banais. Na Arabia Saudita as mulheres não votam e não podem dirigir. No Brasil, apesar da Lei Maria da Penha, o número de mulheres assassinadas é de 4.4 para cada grupo de 100 mil mulheres, estatística que coloca o Brasil como o sétimo do ranking mundial nesse tipo de crime. Em 2012 segundo o SINAN – Sistema de Informação de Agravos de Notificação do Ministério da Saúde, 12.087 mulheres foram estupradas.

Um dos casos mais graves das metas do milênio da ONU talvez seja a erradicação da fome e da extrema pobreza. Mesmo havendo significantes avanços na redução da miséria no mundo, segundo o banco mundial, mais de 1 bilhão de pessoas vivem hoje na extrema pobreza. Um estudo feito pela ONG Britânica OXFAM apresentado no forum de Davos na Suíça em 2015, mostra que a desigualdade mundial atinge números records. Mais da metade de toda a riqueza mundial esta nas mãos de 1% da população e em 2016 estima-se que 1% da população mundial irá controlar a riqueza dos outros 99%. E em pleno século 21 metade de toda a produção mundial de alimentos vai pro lixo. Segundo um estudo da instituição Global Food apresentada pela BBC, 2 bilhões de toneladas de alimentos acabam no lixo todos os anos. Não é de se surpreender que mesmo já estando em 2015, ano limite para o cumprimento das metas, ainda não ouvimos noticias sobre o UN Millenium Development Goals.

Esta mais do que claro (ao meu ver) que a comunidade mundial e a própria ONU falhou de forma vergonhosa na busca pelos objetivos de construir um mundo melhor até 2015. Vivemos hoje uma seqüência infinita de conflitos que matam milhares todos os dias e deixa outros milhares de desalojados. Falhamos em conter o avanço de doenças como a Aids e o cancer, principalmente em lugares como a Africa. O crescimento da desigualdade social junto ao desperdício absurdo de alimentos certamente não irá ajudar na redução da extrema pobreza e da fome no mundo. Continuamos a destruir os recursos naturais de forma descontrolada e os resultados serão desastrosos para toda a humanidade. As Metas do milênio da ONU se transformaram numa grande tragédia vergonhosa que sera difícil ser explicada. Nos resta aguardar o pronunciamento daqueles que se responsabilizaram  em cumprir as metas acordadas em 2000 e as explicações sobre o que eles estiveram fazendo nestes últimos 15 anos.

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